– Apegos e Desapegos

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Em muitos momentos de nossas vidas vamos nos deparar com a filosofia do desapego. As religiões, por exemplo, embora discordem em vários pontos, são praticamente unânimes no que tange ao desapego, mesmo aquelas que pregam – até exageradamente – a teologia da prosperidade. O desapegar-se dos bens terrenos não garantiriam apenas um caminho para o Céu, mas também uma forma de encontrarmos paz e tranquilidade na Terra. Com base em um dos pontos difíceis de digerir nos Evangelhos, algumas correntes apregoam a necessidade de nos desapegarmos inclusive dos afetos, pai, mãe, filhos. (“Quem ama seu pai ou sua mãe mais do que a mim não é digno de mim; e quem ama o filho ou a filha mais do que a mim não é digno de mim.” Matheus 10:37. “Se alguém deseja seguir-me e ama a seu pai, sua mãe, sua esposa, seus filhos, seus irmãos e irmãs, e até mesmo a sua própria vida mais do que a mim, não pode ser meu discípulo.” Lucas 14:26)
Essa linha de pensamento, porém, não é exclusiva das religiões. Há correntes esotéricas e psicológicas que também ligam o desapego à sanidade. E a gente tenta, é difícil, mas a gente tenta e, como muitas vezes vemos a nós mesmos com lentes distorcidas, até acreditamos que conseguimos. Eu mesma, embora necessite de muitas coisas materiais e relacionamentos afetivos para viver, me considerava uma pessoa desprendida, por não atribuir a esses bens – materiais e emocionais – mais valor do que eles devem ter, mas, a vida tem maneiras sutis de nos ensinar as lições que precisamos aprender…
Há algumas semanas eu caí de uma escada, de uma altura de quase quatro metros. Uma queda e tanto e, embora essa altura seja suficiente para quebrar a coluna ou alguns ossos, eu não quebrei nada, mas bati fortemente uma perna, sofrendo a maceração da carne, um ferimento que acabou infeccionando alguns dias após a queda e me obrigou a passar uma semana internada. E, adivinhem quem estava esperando por mim no leito do hospital? Os meus apegos!
Já passei pela experiência de internação outras vezes, mas meu convênio me proporcionava um apartamento individual. Só que, com a crise sofrida pelo setor da saúde, muitas coisas mudaram e só me restou a alternativa de dividir um quarto com outra paciente. Ficar internada já é uma situação bastante constrangedora, ficar ao lado de uma pessoa completamente desconhecida é mais constrangedor ainda, mas, ter uma televisão no quarto e, a despeito da sua debilidade e dor, ter de ficar assistindo à programação escolhida pela outra pessoa (Fofocalizando, Casos de Família e Datena), beira as raias do insuportável e, se em vez de doente eu estivesse morta, teria a certeza de ter aportado diretamente no inferno!
Com a dor que estava, tudo o que eu queria era ficar deitada em silêncio, num quarto escuro, mas, a minha companheira de quarto, uma senhorinha de 87 anos e sua acompanhante, estavam com a luz acesa e a TV sintonizada nessas baixarias. Aquilo foi me dando um desespero tal que, mesmo com dificuldade para andar e tendo de arrastar um pesado suporte de soro, saí do quarto e fiquei em pé no corredor, tentando equilibrar a perna ferida da melhor maneira possível e ali chorei feito uma criança. Minha vontade era arrancar o soro da veia e voltar correndo para casa, mesmo que mal estivesse conseguindo andar.
Confesso que poucas vezes na minha vida tive uma sensação de impotência e desamparo tão grande. Consegui falar com meu marido e ele veio em meu socorro, tentando ver se havia outro quarto, sem TV, mas, só o que ouviu foi que o hospital estava lotado e que eu tive sorte de conseguir aquela vaga. Por causa do soro e também por causa da dor, voltei para a cama e tentei me acalmar. Fechei os olhos e coloquei algodão nos ouvidos, mas o volume era suficiente para fazer com que eu ouvisse as notícias sangrentas de crimes, violência, corrupção impune e, depois, novela atrás de novela.
Pode parecer um exagero esse meu mal-estar, coisa de gente chata, mas, eu raramente assisto TV em casa e, quando o faço, procuro ser bem seletiva com o que vou assistir. Quando cheguei, a senhorinha já estava lá, tinha de respeitar a sua supremacia, dada pelo maior tempo de internação e também pela sua idade. O máximo que a boa educação me permitiu fazer foi pedir para a acompanhante abaixar um pouco o volume. Então, depois que acabou a última novela e a TV foi desligada, pus-me a refletir sobre os apegos e vi o quanto ainda sou apegada à minha vontade, aos meus caprichos e quanto sofrimento isso me causou, nesse episódio em particular e em outros, em vários momentos da minha vida. A conclusão a que cheguei foi que ainda me falta muito para me desapegar daquilo que considero essencial e correto.
Fui internada na segunda-feira e minha companheira de quarto teve alta na sexta. Creio ter sido a semana mais difícil da minha vida. Fui do livro à palavra cruzada e da palavra cruzada ao livro, mas, sem conseguir me concentrar, pois a TV, que era ligada logo de manhã e ficava ligada até a noite, não me permitia prestar atenção na leitura ou no passatempo. Torci para que elas levassem o controle remoto na mala e, como não levaram, tive desejos de escondê-lo embaixo do meu colchão, mas, isso não foi necessário. A paciente seguinte, internada logo após a saída da velhinha, também detesta TV. Fiquei até no domingo, em silêncio e harmonia. Pude ler, repousar e bater longos papos com a moça da cama ao lado.
Naquele momento, estava doente, na cama de um hospital, mas, dia chegará em que estarei em outra realidade, em outro universo e as minhas vontades e caprichos não poderão prevalecer e eu terei de me adaptar, pois nem mesmo poderei ligar para um prestativo marido que largará o trabalho e virá correndo em meu auxílio, porque certas realidades temos que vivê-las sozinhos. Então, para não dar vexame e nem sofrer demais, se não tiver condições de ir para o Céu, espero ir para outro lugar, mas nem passar pelo inferno, porque lá, certamente, vai ter algo que se pareça com esses programas de fofoca da vida de artistas, brigas e baixarias em família e noticiários pesados como o do Datena. Senhor, tenha misericórdia de mim!!!

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