– A casa da gente

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“Nossa casa não é apenas um aglomerado de paredes, janelas, pisos e revestimentos. A casa é um sentimento que nos ocorre. É o sentimento que nos traz um aconchego existencial.” (Padre Fábio de Melo)

Dia desses assisti ao filme “Casinha pequenina”, do Mazzaroppi, e me enterneceu muito a simplicidade da casa de caboclo que o ator e cineasta sempre mostrava em seus filmes. As cenas, carregadas de inocência e beleza, me remeteram a uma velha casinha que eu costumava frequentar em Monte Alto, onde morava uma benzedeira conhecida apenas como Dona Maria. Uma tapera sem reboco, com o piso de terra batida, sempre muito limpinha e arrumada. Nas prateleiras, toalhinhas feitas de jornal e papel de pão, cortadas em formato de renda, onde se juntavam pratos de alumínio, copos, canequinhas, latas de goiabada vazias, que serviam como vasilhas, e alguns bibelôs antigos. Era uma casa muito modesta, mas repleta de aconchego e cercada de muitas flores.
Passeio pela lembrança das casas em que morei e chego à minha casa atual, da qual gosto muito. Embalada pelas recordações dos lugares que me abrigaram, ligo o computador para escrever este artigo e aproveito para dar uma espiadinha no programa Direção Espiritual, do Padre Fábio de Melo e, por uma feliz coincidência, o pego falando sobre a importância da casa da gente. Para mim, o escritor Fábio de Melo vem antes do padre e, devoradora de livros que sou, posso afirmar, sem medo de errar, que li poucos autores que soubessem amalgamar as palavras como ele. Sua prosa escrita – e até mesmo o seu falar – é de uma poesia rara e valiosíssima. Sem dúvida ele é bom como padre, mas, é excepcional como escritor. E nesse seu primoroso construir com palavras, ele disse que “a nossa casa não é apenas um aglomerado de paredes, mas um sentimento que nos ocorre e nos traz um aconchego existencial”.
Nem sempre nossa casa é como gostaríamos que ela fosse. Temos modelos mentais de casas ideais que nem sempre correspondem à realidade do nosso bolso ou do lugar onde se localiza a nossa casa, mas, não importa, seja ela uma tapera, como a da dona Maria benzedeira, ou uma mansão, não existe no mundo um lugar mais aprazível que a nossa casa. Aquele lugar onde guardamos nossas coisas e sabemos onde tudo está, um lugar que nos pertence, mas, sobretudo, ao qual pertencemos. Um lugar onde podemos nos despir, andar descalços, vestir aquela confortável roupa velha que não usamos para sair à rua.
Se não moramos sozinhos, no nosso lar estão as pessoas que amamos, as pessoas com quem podemos contar e nos mostrar como somos. Ainda que haja desentendimentos, divergências de opinião e atritos, em geral, são as pessoas que vivem sob o mesmo teto que nós aquelas nas quais podemos confiar. Temos as nossas plantas, os nossos bichinhos de estimação, as músicas que gostamos de ouvir, nossas escovas de dentes, nossos pentes, nosso colchão gostoso, nosso cobertor, nosso travesseiro amigo, que abriga nosso repouso, nossos sonhos, nossas lágrimas. Na nossa casa podemos abrir a geladeira e beber água na boca da garrafa, furar uma lata de leite condensado e “mamar” direto na lata, liberar os puns retidos na lide diária, arrotar depois de tomar uma Coca-Cola bem gelada. Enfim, há uma infinidade de coisas que só temos e só fazemos em nossas casas.
Podemos viajar pelos lugares mais maravilhosos, nos hospedarmos nos hotéis mais luxuosos ou sermos recebidos de maneira calorosa em casa de parentes ou amigos, porém, sempre desejaremos voltar para o aconchego de nossa casa, mesmo que sejam “casas simples com cadeiras na calçada e na fachada escrito em cima que é um lar”, como tão bem cantou Chico Buarque na música Gente humilde.
Como já contei aqui, no final de julho caí de uma escada, de uma altura de quase quatro metros, e tive um ferimento sério na perna esquerda, que fez com que eu precisasse ficar de repouso, com a perna elevada, até hoje. São três meses em que tenho estado reclusa na minha casa, saindo basicamente para ir ao médico e ao hospital para trocar o curativo e penso como seria triste e desagradável se eu não gostasse da minha casa ou se tivesse de ficar em outro lugar. Isso me faz pensar também na importância de cuidarmos da casa da gente, de mantê-la limpinha, arrumada, bonita e, pra isso, não precisamos de luxo, de ter os eletrodomésticos mais caros, os móveis mais chiques ou os eletrônicos mais modernos. O importante é que as coisas estejam como nós gostamos, que possamos encontrá-las quando precisamos, com um cheiro bom, que se distinga dos cheiros de todos os outros lugares do mundo. E também que haja respeito entre as pessoas que vivem juntas na mesma casa, que haja harmonia, que haja bons sentimentos, paz, contentamento em estar junto. Que não tenhamos em nossas casas nada para esconder e que possamos receber bem as pessoas que nos visitam.
Um dia, deixaremos as nossas casas e dá uma dorzinha pensar nisso, na possibilidade de abandonarmos o conforto do conhecido, do prazeroso, do que se amolda ao nosso jeito de ser para mergulharmos no mais absoluto desconhecido. Mas, se acreditamos que somos mais que um corpo material, se nos concebemos como almas, como espíritos, sabemos que, por mais que esse desconhecido assuste, devemos acolhê-lo e aguardá-lo com tranquilidade, pois deve existir uma imensa e maravilhosa casa, com o jeito e o carinho da casa da gente, de onde viemos e para onde haveremos de voltar.

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