É chegada a hora

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Quando escrevo, ainda faltam dois dias, mas, quando você estiver lendo, já terá chegado a minha hora, eu já terei partido. Comecei contando os dias, no meio da semana já estava contando as horas, depois, os minutos. A espera, enfim, acabou. Estou fazendo uma curva na qual me encontro com o futuro que tanto busquei, com o qual tanto sonhei. Agora, posso tocá-lo, olhar para a sua cara, segurar suas mãos, abraçá-lo, sorrir para ele e, junto dele, partir sem olhar pra trás, porque o que passou, passou. Foi no que passou, bom ou mal, certo ou errado, alegre ou triste, fútil ou profundo, que me fiz como pessoa e pude chegar até aqui, mas, o veículo que agora dirijo não tem retrovisor, não me permite olhar para trás. O que era, já não é, já foi, já é finito.
Eu me preparava para me aposentar. Aí, no meio do caminho veio o fator 85/95 e frustrou um pouco as minhas expectativas, depois veio o Temer e as temerárias mudanças na Previdência e a angústia apertou um pouquinho mais… Mesmo assim, resolvi fazer uma simulação do tempo que faltava para a tão almejada aposentadoria e a data me alegrou, pois, ainda que tivesse de pagar um pedágio percentual, ela estava mais próxima do que eu supunha. Como sou uma pessoa metódica, comprei uma cartolina e, com as folhas de um calendário, fiz uma composição com todos os meses do ano a partir de fevereiro. Faltavam 311 dias e, como um presidiário que marca na parede da cela os dias faltantes para a sua liberdade, fui fazendo um “x” em cada dia com um pincel atômico, afinal, como já dizia Tiradentes, “libertas quae sera tamen!”.
Porém, mal começada a contagem, eis que surge uma grande surpresa: um plano de demissão voluntária para pessoas aposentadas ou em vias de se aposentar. Nada poderia ter soado mais doce aos meus sentidos! Não pensei duas vezes! Assim que recebi a notificação, fiz a minha adesão ao programa. Depois de quase vinte anos de dedicação à mesma empresa, somados ao tempo de trabalho em algumas outras e descontando o tempo trabalhado sem o devido registro em carteira, é chegado o dia de partir, de encerrar esse ciclo.
Eu nunca fui simpática à prática das pessoas se aposentarem e continuarem trabalhando, pois isso, além de tirar o emprego e a oportunidade das pessoas mais jovens, acaba criando um círculo vicioso: as pessoas se acostumam com dois salários e com a estabilidade e nem sempre se dedicam ao trabalho como deveriam, na maioria das vezes apenas ocupam um espaço que já não deveria ser seu. Não quero dizer com isso que a aposentadoria deva significar fim de jornada ou que deva ser sinônimo de ostracismo, de vazio, mas que deve representar o fim de um ciclo e abrir um novo leque de possibilidades, ainda que uma delas seja mesmo o merecido descanso depois de uma vida de “ralação”.
Sempre brinquei com os colegas que, quando chegasse o meu dia, se eu me aposentasse de manhã, de tarde eu já teria ido embora e passaria dois meses de pijama, vendo todos os filmes e lendo todos os livros adiados por cansaço e falta de tempo. Com as cinzas da quarta-feira se inicia a minha pré-aposentadoria, um acordo para esperar em casa, remunerada, o tempo que falta para me aposentar. São tantos projetos e planos que certamente não passarei de pijama mais que uma manhã e os filmes, não os verei todos de uma vez, porque, parar de trabalhar é algo que só farei quando não tiver mais forças – físicas e emocionais – para prosseguir. No que depender de mim, enquanto eu tiver um fôlego, enquanto tiver um suspiro, estarei trabalhando, construindo, criando, produzindo algo. A diferença é que, a partir de agora, farei o que eu quero e não o que esperam de mim meu empregador e meus chefes.
A gestão agora estará a cargo da minha liberdade, da minha criatividade e da minha paixão. De jardinagem à pintura de parede e restauração de móveis eu simplesmente e absolutamente escreverei! Não sei dizer como e quanto esperei por isso e nem tenho como expressar o tamanho do meu contentamento. Deixo a Caixa com uma enorme gratidão e, se houve frustrações, chateações e contratempos, foram de somenos importância e se diluíram na satisfação de trabalhar nessa empresa, de fazer parte da equipe de um banco público que sempre acreditei – e continuarei acreditando – faz diferença na vida das pessoas. Todo fim de ano ganhamos uma camiseta. A de 2016 tinha variações e a mim coube uma que traz a frase: “Eu faço o sonho acontecer”. E, sim, de muitas formas, eu ajudei o sonho de muita gente acontecer, sobretudo nos anos em que trabalhei no setor de Habitação. Agora é a vez do meu sonho acontecer!
Eu já vi (e até escrevi sobre isso) pessoas se aposentarem e se deprimirem, ficarem perdidas, sem rumo. Também vi pessoas descansarem por um tempo e depois recomeçarem, escolherem rumos novos, descobrirem em si potencialidades que nem supunham ter. Vi pessoas se sentirem realizadas e outras, tristes. Vi gente com a postura de “fim de linha” e gente com o entusiasmo do recomeço. O que sei é que me encontrar com o meu futuro – assim até meio antes da hora esperada – está sendo algo fenomenal, estou que não caibo em mim. Já não serei um número de matrícula e nem a função estampada em um carimbo, já não terei uma mesa, um computador, uma senha e um e-mail corporativo e nem falarei para pessoas com horas de espera qual é o saldo de suas contas de FGTS inativas. Já não terei horário rígido e um ponto para marcar.
Meu futuro, enfim, chegou, mas, só poderei vivê-lo e dançar com ele essa ciranda por todos os anos em que fui matrícula, função e estive atrás de uma mesa tentando dar o melhor de mim. E o meu melhor pode até não ter sido o esperado, mas, foi o meu melhor e a minha sensação de paz, de leveza e de dever cumprido é o que dará o tom e o ritmo para o que vier a partir dessa curva onde tudo se transforma. Quando jovem, li uma frase que me impactou, tanto que a escrevi, com giz de cera, na parede do meu quarto: “Vai haver uma festa. Vou dançar até o sapato pedir pra parar. Aí eu tiro o sapato e danço o resto da vida.”. Dancei o quanto os sapatos permitiram e aguentaram, agora, acabo de descalçá-los e desejo que o resto de tempo que tenho para dançar seja tão longo que pareça uma vida inteira. A vida que há muito espero porque, finalmente, cheguei – e cheguei bem – aonde eu pretendia chegar!

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