O mundo é o que fazemos dele

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Vivemos uma época de tensão e instabilidade que talvez a humanidade nunca tenha vivido. As notícias de catástrofes e violências são cada vez mais assustadoras. Quando pensamos que não há nada de pior que o ser humano possa fazer, somos surpreendidos por uma atrocidade nova, por uma corrupção maior, por um atentado mais absurdo ou uma guerra mais inacreditável.
Temos a impressão de que forças incontroláveis e muito superiores a nós estão em ação, interferindo em nosso mundo e criando esse cenário bizarro e hediondo. No entanto, não há nada que venha de fora, tudo o que estamos vivendo é consequência de nossos atos e de nossas escolhas, porque o mundo é o que fazemos dele. Mas, não podemos nos render a esse caráter fatalista, pois, mesmo diante de um mundo tão cruel, violento, corrompido, temível, relativista e assustador, um mundo em crise, ninguém está fadado a apenas sofrer ou a ceder e se tornar igual aos piores, se nivelando por baixo.
Esses dias, lembrei-me de um episódio ocorrido quando o meu filho tinha uns três ou quatro anos. Perto de nossa casa tinha um “trio” que cruzava um terreno baldio, usado para encurtar caminho. Uma tarde, passando por lá com meu filho, paramos para observar uma carreira de formigas saúva, algumas carregando folhinhas ou pequenos gravetos três vezes maiores que elas. Ficamos agachados longo tempo perto do formigueiro, vendo a dificuldade das que carregavam folhas maiores e a solidariedade das outras que vinham para ajudá-las, o transporte das que pareciam feridas e a maneira como elas se “saudavam” ao passarem umas pelas outras (na verdade, elas não se saúdam, apenas sentem o cheiro do feromônio que serve para agregação, para demarcar a trilha e para detectar insetos invasores, mas, para nós, era um beijinho de saudação, um cumprimento).
De repente, surgiu um menino maior, entre oito e dez anos, e perguntou o que estávamos fazendo. Meu filho respondeu animado que estávamos observando as formiguinhas e em poucos segundos o menino meteu o pé no formigueiro, espalhando a terra e obstruindo a entrada e depois foi pisando e matando o maior número de formigas que conseguiu. Dei uma bronca nele enquanto abraçava meu filhinho que chorava diante daquela violência gratuita do menino que saiu rindo e caçoando de nós. Talvez eu devesse tê-lo abraçado também, pois, com esse nível de agressividade, denotava ser uma criança carente de atenção e afeto, mas, confesso que a vontade que senti foi de dar-lhe uns bons tapas.
Tive de explicar para meu filho, tão ingênuo, que, infelizmente, no mundo há muita gente que age assim. Hoje ele é um padre e, certamente, ouve, acolhe e aconselha pessoas que fazem coisas muito piores do que destruir formigueiros. Há algum tempo ele até comentou comigo que, mesmo com todo o preparo espiritual e psicológico que tem como padre, às vezes ouve coisas no confessionário que o fazem duvidar de que um ser humano possa praticá-las.
Mais uma vez, perto da casa onde moro hoje, tem um imenso terreno cortado por um veio de água. Esse lugar é um sinalizador muito claro de que o mundo é o que fazemos dele. Numa esquina desse terreno as pessoas despejam entulho, colchões e sofás velhos, partes de fogões e de geladeiras, pneus e toda sorte de tralha que não tem mais serventia. A prefeitura tem um calendário mensal para a recolha desse tipo de material, mas, as pessoas ignoram esse calendário e despejam ali o seu lixo e a suas inutilidades a qualquer tempo, provocando mal cheiro, atraindo insetos – talvez até ratos – e enfeando muito o lugar. No mesmo quarteirão, da metade até a outra esquina, há um lindo jardim, onde se misturam flores e árvores, a maioria delas frutíferas. Ali também há pneus, cada um pintado de uma cor e transformados em lindos canteirinhos de flores.
Quem cuida desse jardim são alguns moradores. Eles plantam, regam, podam, cortam a grama ao redor. Quando a prefeitura passa e recolhe o lixo e o entulho acumulado na primeira parte, não demora uma semana e já está cheio de cacarecos de novo. Começa com os moradores, mas, não é incomum ver pessoas estranhas parando carros e camionetes e desovando restos de obras e mobília quebrada. Na outra extremidade, nem mesmo um pedaço de papel é jogado no chão. É a mesma rua, o mesmo quarteirão, o mesmo terreno, mas a paisagem é completamente diferente. Simplesmente, uma questão de escolha. E uma escolha que inspira tanto a saudável atitude de fornecer mudas e ajudar na manutenção do jardim quanto a atitude irresponsável de jogar lixo como se ali fosse um aterro sanitário.
É a mesma coisa que parar para olhar o primoroso, organizado e exemplar labor das formigas recolhendo alimentos para dentro de suas casas ou simplesmente chutar o formigueiro, esmagar as formigas e rir disso, se achando o máximo. Assim como o menino caçoou de nós diante da contemplação que ele deve ter reputado como idiota, também há quem critique os moradores que cuidam daquele terreno público, dizendo que são tolos, porque a limpeza do local é responsabilidade da prefeitura, assim como criticam a prefeitura por deixar o lixo acumulado na outra esquina. Essa é a postura dos que nasceram apenas para criticar. Criticam os maus e criticam os bons, sem tomar qualquer atitude para modificar as coisas e melhorar o mundo. Criticam os políticos corruptos, mas continuam votando neles, criticam os que se manifestam contra a corrupção, chamando-os de baderneiros e, via de regra, inconscientemente, criticam a si mesmos ao criticarem o povo brasileiro, colocando a todos num mesmo caldeirão de indistinto caldo.
Mas, a verdade é que, por pior que pareça estar o mundo, ele só está assim por nossa causa, pois somos responsáveis por nossas atitudes e escolhas, boas ou ruins, e também por nossas omissões, porque o mundo é – e sempre será – o que fazemos dele. A bonança ou a miséria sempre dependerá de nós.

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