Tão perto, tão longe…

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Tão perto, tão longe…
Moramos em quatro pessoas. Dia desses cheguei em casa e encontrei as outras três vendo um programa de TV. Bem , o que pode haver de extraordinário nisso? Três pessoas de uma família reunidas vendo TV, algo pra lá de corriqueiro. É, seria… A questão é que, embora assistissem ao mesmo programa, cada uma delas estava em um cômodo diferente, cada uma em sua TV! Confesso que isso me provocou um calafrio e me pôs a pensar nos enigmas da comunicação, ou melhor, da falta dela.
Lembro-me que, quando pequena, morando em Monte Alto, demoramos a ter TV em casa e os vizinhos que tinham acabavam sendo muito assediados. As donas de casa que tinham o privilégio de ter a sua caixona com imagem e som na sala da casa não se incomodavam em receber as comadres e vizinhas para assistirem as novelas, pelo contrário, tinham até um certo orgulho nisso, pela oportunidade de ostentar o seu status privilegiado. A nós, crianças, a fim de manter a ordem geral, cabia o lado de fora da janela da sala, onde nos apertávamos, os menores ficando nas pontas dos pés e perguntando para os maiores o que estava passando. Assistíamos um pouco e logo nos distraíamos, preferindo voltar para a largueza da rua, para nossas costumeiras brincadeiras noturnas de pique, pega-pega, fita, passa anel, mês, balança- caixão, amarelinha, mamãe polenta. Mas, nossas mães se mantinham fiéis até o último minuto das novelas em preto e branco, nas quais galãs como Eva Wilma, Carlos Zara, Gianfrancesco Guarnieri,Tarcísio Meira, Glória Menezes, Cláudio Cavalcanti e Suzana Vieira faziam seu espetáculo.
Um tempo depois, quando um número maior de famílias conseguiu comprar a sua caixa mágica, a grande ostentação passou a ser a TV em cores. Como essa era muito mais cara, para não ficarem para trás, os mais pobres compravam uma horrorosa tela de três cores que instalavam em frente de suas Philcos, Colorados e Telefunkens e, assim, os atores eram exibidos em três cores, geralmente verde, vermelho e amarelo. Um horror sem paralelo! Uma pessoa com a cabeça verde, o corpo amarelo e as pernas vermelhas, variando apenas a posição das faixas de cor, cujo vermelho às vezes era substituído pelo marrom.
Com os avanços da tecnologia e a expansão econômica, ter TV em casa se tornou um lugar comum e o chique passou a ser ter uma TV na sala e uma no quarto. Depois, com a autonomia cada vez maior das crianças, expandiu-se esse costume também para o quarto delas e acaba dando no que se deu na minha casa: sogra na sala, marido num quarto e sogro no outro. Famílias cada vez menores e que se comunicam cada vez menos. E isso falando só em TV, um acessório quase obsoleto, pois se formos falar nos computadores e celulares, essa distância entre as pessoas aumenta exponencialmente. Podemos encontrar dez pessoas numa mesma sala, mas, quase sempre, elas estarão ali que nem defunto em missa de corpo presente, pois as suas almas, sua atenção e suas mentes, estarão navegando por mares muito distintos e muito distantes uns dos outros, cada qual em seu mundinho particular, conectadas com um infinito de pessoas irreais em universos virtuais, incapazes de trocar meia dúzia de palavras com quem está sentado ao seu lado.
Nos últimos dias, com a ameaça mundial de um novo e potente vírus, que fez até a Microsoft pular miúdo para atualizar seus sistemas, pus-me a pensar o que será do mundo e das pessoas se uma eventualidade qualquer por fim a esse universo onírico no qual nos movemos. Para pessoas da minha idade, não é difícil pensar num mundo sem Internet, como, na infância, demoramos para trocar as brincadeiras da rua pela televisão, mas, para os mais jovens, um mundo sem Internet, sem Whats App, sem Facebook, sem Instagram é o fim, o caos, a não vida, o Apocalipse Now!
Não sou retrógrada e muito menos uma conservadora em luta contra o progresso, tanto é que, neste momento, uso um computador para escrever e logo mais estarei usando a Internet para enviar o meu artigo para a redação do jornal. Sem esse recurso, morando a centenas de quilômetros de minha querida cidade-sonho, eu não teria como escrever para o jornal. Depender dos correios demoraria horrores e inviabilizaria manter uma coluna sem estar fisicamente presente. Esse é o lado bom da tecnologia. Mas, por outro lado, me indigna essa ruptura na comunicação. Ainda prefiro sentar na calçada, na praça, na sala e falar com as pessoas ou pelo menos assistir televisão junto com elas, em vez de estar recebendo uma visita que se senta em meu sofá com seu celular na mão e sequer se dá conta de minha presença ao seu lado.
Na véspera do Natal do ano passado, meu celular foi roubado quando eu saía do trabalho. Num impulso, cheguei a correr uns dois quarteirões atrás da ladra, mas, eu a pé e ela de bicicleta, perdi a parada. Fiz Boletim de Ocorrência, me chateei, me preocupei com todos os contatos do Whats App que se comunicavam comigo diariamente, porém, com o passar dos dias, não fiz muito caso de tentar reaver o celular e nem fui atrás de comprar outro para, ao menos, recuperar os contatos. Fui me libertando, deixando que aquele hábito saísse de mim. Que eu saiba, ninguém morreu ou entrou em colapso por ter deixado de se “comunicar” comigo. No mínimo devem ter me considerado chata e metida, por não mais responder às suas mensagens, alguns talvez nem tenham percebido e enfim, como no passado, hoje eu sou uma pessoa sem celular e também não morri e nem entrei em colapso. A vida segue normalmente. Tirando a cara que algumas pessoas fazem quando pedem o número do meu celular e eu digo que não tenho, tudo vai bem, muito bem, aliás; um tempo precioso voltou para a minha vida, com qualidade.
No episódio de surpreender meus familiares tão próximos e tão isolados, eu comentei isso com eles. Riram e, por alguns dias, até os vi juntos, vendo TV, depois, nem prestei mais atenção ao fato, já que eu mesma não me interesso em ver TV, sempre muito do mesmo. Não posso mudar o mundo e nem mesmo os hábitos daqueles que estão mais próximos de mim, mas, posso, quero e devo preservar cada vez mais o meu gosto pela comunicação, pela boa conversa, pelo olhar e tocar as pessoas. Ainda que venha a ser considerada “o último dos moicanos”, disto não abrirei mão jamais. Quando a gente chega ao lugar que cheguei na vida, em termos de idade e de experiência, a gente pode escolher o que quiser e eu escolhi a simplicidade de viver e estar perto de quem quero estar, ainda que às vezes tenha que disputar a atenção arduamente com um pequeno aparelhinho, mas, espero, do fundo da minha alma, que as minhas mãos, palavras, braços e olhos livres, enfim, a minha disponibilidade, possa continuar encontrando eco para que a minha vida não seja um gritante silêncio de quem só consegue olhar para telas de diferentes medidas e graus de iluminação.

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