Tragédias: Por que nos interessam tanto?

Procura por matérias impactantes se sobressaem diariamente perante as ‘comuns’

juliana

Juliana Ilkiv em seu consultório na Clínica Bodyness – Espaço Saúde

“Não olha”. Pronto, olhamos! “Mas ela está ferida, toda machucada”. Olhamos com mais foco e precisão. Tudo isso lhe é familiar? Você já presenciou? Mas, acima de tudo, já se questionou o por quê de gostarmos em ver tragédias e/ou cenas fortes do dia a dia? Dependendo a intensidade, a imagem de uma pessoa machucada, por qualquer motivo que seja, pode permanecer dias em nosso subconsciente, por isso, não seria melhor vermos um casal de namorados felizes, uma criança correndo despretensiosamente, do que uma pessoa machucada lutando pela vida?
Para exemplificar, nesta matéria especial, O Imparcial traz como base de dados a repercussão de suas matérias na internet. No final de dezembro de 2012, um dia com duas mortes de adolescentes, um por acidente de moto e outro após um assalto em uma farmácia, trouxe mais de 1.500 curtidas em nossa página no Facebook. Um número que até hoje não se repetiu em um único dia. Já em nosso site, matérias que “bombaram” em número de acessos foram o ‘crime da mala’, desastres causados pela chuva, suicídio de uma garota de 17 anos, acidente com cinco vítimas fatais na estrada Taquaritinga/Monte Alto, roubo com explosão de caixa eletrônico no Banco do Brasil, dentre outras parecidas. Matérias ditas comuns como jogos de futebol, inauguração de prédios públicos, chamadas para eventos culturais, também têm a sua interação, mas em número bem menor.
Mas de onde vem esse interesse em tragédias? É da natureza humana? É algo que precisa ser tratado? Para responder todas essas questões, conversamos com a psicóloga Juliana Fernandes Ilkiv Castello, especialista em Psicoterapia Corporal. Confira:

Jornal O Imparcial: Por que as pessoas gostam de ver tragédias?
Juliana Ilkiv: É fato que as pessoas apresentam um interesse algumas vezes exagerado por tragédias, a comprovação disto é que os sites mais acessados, assim como as matérias mais lidas nos jornais e as notícias que dão maior ibope na televisão estão ligadas diretamente a tragédias. Isto ocorre por vários fatores, mas dois deles se destacam. Quando temos acesso a informações ruins que aconteceram na vida de outras pessoas, automaticamente comparamos a todas as situações que estamos vivendo ou já vivemos, se esta situação é julgada como algo “pior”, de certa maneira traz alívio às nossas dores. A comparação feita é de que aquela pessoa está passando por situação pior do que a vivenciada. Outro fator é a busca por proteção, quando ocorre algo trágico, como por exemplo um assassinato, um acidente; a busca por detalhes se destaca pois cria a ilusão de que sabendo como aconteceu, talvez consiga-se evitar ou pelo menos prevenir que a mesma situação se repita.

Jornal O Imparcial: Essa procura por tragédias tem algo a ver sobre o dia a dia das pessoas, por exemplo, se a vidas delas é monótona ou algo do tipo?
Juliana Ilkiv: Colocar que este interesse estaria vinculado à monotonia seria equivocado, visto que as tragédias assustam e causam medo e comoção. Já a curiosidade trata-se de um instinto, presente em qualquer espécie, que está relacionado ao querer estar informado sobre determinada situação como forma de proteção.

Jornal O Imparcial: Essa procura constante chega a ser prejudicial? É necessário algum tratamento?
Juliana Ilkiv: Tanto a procura exagerada quanto a exposição a essas informações não são benéficas. A exposição a notícias ruins e tragédias podem desencadear transtorno de ansiedade, síndrome do pânico além de outros problemas psicológicos que necessitam de tratamento. É óbvio que a informação é importante, mas de forma sadia, mas tudo que é exagerado pode tornar-se uma obsessão, convém mencionar que todo exagero é ruim e prejudicial. Em clínica, quando necessário, oriento meus pacientes a evitarem determinados programas ou notícias.

Jornal O Imparcial: Não é melhor para o ser humano buscar ver coisas boas?
Juliana Ilkiv: Estamos expostos a todos os tipos de informações, boas ou ruins, o importante é como nos relacionamos com elas. O mundo não é somente um mar de rosas, devemos ter consciência que as coisas ruins acontecem. Sabendo disto valorizamos o que é bom. Buscar somente o bom também é prejudicial, como no caso da “Sindrome de Poliana”, que nada mais é do que uma fuga da realidade. O importante é sempre saber dosar.

Jornal O Imparcial: Essa ‘curiosidade’ estaria relacionada à empatia com o sofrimento alheio?
Juliana Ilkiv: Sim, a empatia com o sofrimento alheio é indiscutível, por isso temos tanta comoção e revolta frente às grandes tragédias. Como no caso da Isabela Nardoni, Suzane Richthofen, acidente do cantor Cristiano Araújo, dentre outras. Todas as grandes tragédias tem seu período de reflexão, aquele momento em que nos traz a finitude da vida, que nos mostra que não somos intocáveis e que as coisas acontecem, traz a tona o medo do fim, mas também a sensação de estar vivo. Observa-se que toda comoção tem prazo de validade, quando as pessoas não estão diretamente envolvidas, passado o período de reflexão, a emoção frente àquela situação se modifica.

Jornal O Imparcial: Ver algo desse tipo (tragédia), serve para que procuremos não fazer o mesmo? (exemplo: teve um acidente de carro na rua X, então toda vez que passamos por essa rua, vamos tomar mais cuidado?)
Juliana Ilkiv: Sim, está ligado ao nosso instinto de proteção, quanto mais informação se tem, de certa forma, acredita-se que é capaz de evitar que aquilo se repita. É comum ouvirmos: evite aquele trajeto, lá já aconteceram muitos acidentes. Não passe por aquele lugar, várias pessoas já foram assaltadas.

Jornal O Imparcial: O tabu envolvendo imagens/vídeos mórbidos pode ser um dos motivos pela intensa procura?
Juliana Ilkiv: Sem dúvida alguma, os tabus chamam a atenção e despertam interesse. O proibido atrai a curiosidade, trata-se também de uma questão cultural. A cultura tem grande influência nos aspectos psicológicos da sociedade. O ser humano reflete o meio ao qual está inserido. É importante ter consciência de que, o que nos leva adiante, são nossas crenças e escolhas, somos feitos daquilo que absorvemos no dia a dia, seja positivo ou negativo, todo tipo de informação está ao nosso alcance, a escolha de acesso é pessoal e intransferível, quem opta por qual informação irá acessar e o que deseja absorver é de cada um.

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