A casa de papel

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Desde o início de nossa educação, vamos aprendendo a julgar o mundo e as pessoas que nele vivem de acordo com o conceito de certo ou errado, culpado ou inocente. É como se nós e os nossos estivéssemos protegidos por uma bolha e tudo o que é feito fora de nós tem o potencial de nos afetar, eximindo-nos candidamente de qualquer culpa e responsabilidade, o que se resume em dizer que o mundo nos afeta, mas nós não afetamos o mundo. Obviamente, trata-se de um conceito falso, mas que nos conforta e nos permite encontrar um eixo para nos equilibrarmos, distraídos de que, fazendo parte do todo, com nossas ações e comportamentos também afetamos esse todo.
Nas atuais conjunturas de nosso país, nos tornamos um misto de vítimas e juízes. Nos sentimos um pouco como mini Sérgios Mouros, prontos para julgar e condenar (embora não tenhamos acesso às investigações, provas e depoimentos, o que limita e apressa nossos juízos e sentenças). E não podemos deixar de sentir o gosto heroico da vitória ao ver atrás das grades nosso ex-presidente ou então o gosto amargo da derrota, com cores de injustiça e perseguição política, se somos partidários ou militantes da esquerda.
Embora nem todos conheçamos o Rio de Janeiro, onde a magistral beleza das praias contrasta com a pobreza e violência dos morros, num ato de solidariedade nos sentimos vítimas das facções criminosas que dominam o tráfico com estratégia e armamentos pesados, causando terror e mortes. Sempre escolhemos um lado, o lado que parece correto e que se coaduna aos nossos valores de certo e errado, culpado e inocente, justo e injusto, bem e mal.
No entanto, mesmo que pensemos o contrário, esses valores são frágeis e muito subjetivos e a verdade é que não nos conhecemos e nem sabemos ao certo de que lado estamos, pois, na maior parte do tempo, nos iludimos e nos deixamos levar pelos modismos e pela manipulação constante a que somos submetidos, por isso defendemos ideologias, fazemos tatuagens, usamos determinadas roupas, cortamos o cabelo de determinado jeito, curtimos determinadas músicas e adotamos as gírias do momento, tudo para estar na moda e não destoar.
Ah, pobres tolos, como somos frágeis, vulneráveis e manipuláveis! E as opiniões que temos sobre os mais variados assuntos, por mais que as defendamos como valores morais, raramente são nossas e sim as opiniões que somos levados a ter.
A Netflix está exibindo uma série chamada “La casa de Papel”, que retrata um assalto à Casa da Moeda da Espanha. Não tenho muita paciência com séries, mas de tanto que essa me foi recomendada, acabei assistindo, de maneira até febril, pois o enredo é bem amarrado e prende a nossa atenção, justificando o sucesso que tem feito.
Quando terminei de assistir, tinha algumas poucas críticas a respeito de confrontos que achei exagerados e de algumas coincidências forçadas para facilitar a trama e achei o final um tanto adocicado para um enredo tão tenso, mas, no geral, uma boa história. Porém, o que me deixou estarrecida foi deparar com a projeção de minha própria sombra, episódio após episódio. Assim como eu, qualquer pessoa que assista à série terá a mesma postura: torcer pelos assaltantes. Os ladrões invadem a Casa da Moeda armados como os bandidos e traficantes do Rio, que tanto criticamos, e fazem reféns a funcionários e visitantes, pessoas comuns que saem de suas casas para trabalhar ou para um passeio e se veem sob a mira de fuzis, passam por toda sorte de pressão, vivendo situações de pânico e terror, sendo obrigadas a cavar túneis e empacotar dinheiro, privadas de sono, de higiene e de dignidade; são humilhadas e aterrorizadas e nós, que na vida real poderíamos ser um desses reféns, passamos 22 episódios torcendo pelos sequestradores e até desejando que os reféns mais chatos e incômodos sejam punidos ou eliminados e repudiando cada policial que se empenha em seguir as pistas e chegar ao cabeça do bando, já convertido em nosso herói.
Isso pode parecer exagero, afinal, se trata apenas de uma ficção, mas, não é. A trama toda é feita para que tenhamos exatamente essa postura. E isso não acontece somente nessa série. Basta voltarmos um pouquinho no tempo e nos lembrarmos da trilogia Crepúsculo, que fez imenso sucesso entre o público adolescente que, capítulo após capítulo, torcia para que o vampirinho pop mordesse a mocinha para que ela também se tornasse uma vampira e se consumasse a bizarra história de amor. E agimos assim com as novelas, com as notícias da TV, com os boatos e fake news que nos chegam pelo Instagram, Facebook, Watsapp ou nas conversas por aí.
Como num clássico de futebol com torcidas rivais, cada uma defendendo o seu lado como o melhor, vamos sendo levados, sem perceber, a escolher um lado, que passa a ser o nosso lado, mas é apenas o lado que querem que nós escolhamos e defendamos.
Quando torcemos pelos bandidos em uma série de TV, não estamos sendo iguais aos traficantes que apavoram a população do Rio de Janeiro e aos empresários e políticos que alimentam a corrupção que tanto nos desaponta e prejudica? Qual será, enfim, a nossa opinião isenta e verdadeira? Por que é tão fácil nos deixarmos levar? Não seremos nós desconhecidos de nós mesmos e não estarão nossos supostos valores e convicções sustentados sobre uma frágil casa de papel?

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