Filhos não vêm ao mundo para preencher a vida dos pais. Filhos não vêm ao mundo para que você tenha alguém que te cuide na velhice ou na doença. Filhos não vêm ao mundo para preencher vazios existenciais nem para não te deixar sozinho.
Tudo isto pode acontecer, é claro. Ter uma família unida, filhos próximos que possam ser apoio para os pais no futuro, tanto física quanto emocionalmente. Filhos podem ser o sentido da sua vida. Mas, não é para isto que os filhos vêm.
Filhos vêm para construírem – e viverem – as suas próprias histórias a partir do que lhe oferecemos na infância e adolescência. Filhos vêm para terem gostos e sonhos próprios. Para serem indivíduos e não extensão dos pais ou das expectativas deles.
E não é fácil se libertar de tudo isto e permitir que o filho seja. Seja ele mesmo, busque por ele mesmo, aprenda e erre, também. E arque com as consequências das escolhas que faz.
Não é fácil aceitar que um filho prefira um caminho diferente do que achamos o melhor. Não é fácil que um filho escolha a profissão que não julgamos boa suficiente ou mesmo que saibamos que não vá prover a renda que gostaríamos que eles tivessem para terem uma vida boa.
Mas, afinal, o que é ter uma vida boa? Quem determina o que é o melhor ou pior, o que traz mais felicidade ou menos, a maior ou menor realização?
Talvez a melhor definição do que seria uma boa educação seja ajudarmos na formação de um ser humano que saiba conviver diante de tantas coisas difíceis.
Que entenda as diferenças e o valor da palavra respeito. Que tenha responsabilidade diante do que se compromete fazer e oferecer. Porque tudo o que é construído após a base – relacionamentos, profissão, onde e como se vive, é direito de cada um escolher.
Filhos vieram para voar. Pais vieram para viver a vida em plenitude. Parte dela com os filhos perto, parte dela com os filhos longe, talvez. Mas dentro, sempre.
Os melhores pais – amorosos e presentes – são aqueles que o filho guarda dentro de si. Porque estes pais irão com os filhos para onde forem. Perto ou longe.
Irão caminhar com as próprias pernas na certeza do amor, dos cuidados e da segurança afetiva oferecida durante o tempo em que fomos responsáveis por eles.
Irão com as ferramentas necessárias para suportar o amor e a dor. Irão ter vida. Então, viva e deixe viver.
