A boa morte

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No ano de 1990, mudei-me para São Paulo, realizando o grande sonho de trabalhar como repórter no Estadão. Menina simplória, acostumada com a rotina de trabalho do Imparcial, onde era repórter, redatora, revisora, editora, etc, confesso que tremi nas bases. Afinal, eu nasci e cresci em Monte Alto, conhecia todo mundo, era amiga do delegado e do chefe da polícia militar, que me franqueavam o acesso aos boletins de ocorrência. Conhecia todos os políticos que, há décadas, se sucediam no poder, numa escala de revezamento. Minha identificação com o jornal era tamanha que já nem tinha sobrenome, era conhecida como a “Izilda do Imparcial”. No entanto, trabalhar num grande jornal, com mais de 300 repórteres e redatores, era outra coisa.
Fui para lá convidada pelo diretor de redação, Augusto Nunes, indicada por uma amigo em comum, de Taquaritinga. No dia em que cheguei, já recebi a primeira pauta: uma matéria especial, de uma página, sobre as ruas de São Paulo. Vale lembrar que, naquela época, não havia Google e as pesquisas tinham de ser feitas na unha. Eu não conhecia absolutamente nada de São Paulo, por isso, minha primeira ação foi ler o guia de ruas inteirinho, anotando os nomes mais pitorescos e contando os mais repetidos, como Rua 1 ou Rua A (centenas!). Como era uma matéria especial, tinha tempo para fazer e me dediquei com afinco, pois, além do imenso espaço de uma página, a matéria seria assinada, um grande começo.
Enfim, todo esse preâmbulo é para dizer que, entre os muitos nomes esdrúxulos que encontrei, um me chamou a atenção: Rua da Boa Morte. No auge da juventude, “boa morte” me parecia algo um tanto controverso, afinal, para mim, morte alguma poderia ser boa. Talvez não tenha sido apenas a mim que que essa expressão causou estranheza, pois a rua, localizada no centro da cidade, acabou sendo rebatizada como Rua do Carmo.
Bem, o tempo passou e acabei me deparando com a tal da “boa morte” algumas outras vezes. Vi, em um livro de orações, uma prece pedindo a boa morte e descobri que, sendo a morte a única coisa inevitável na vida, muitos desejam que ela seja boa, tranquila, sem sofrimento. Essa expressão acabou ficando marcada em meu subconsciente e, há alguns dias, veio à tona novamente, só que de uma forma real que, além de não mais despertar estranheza, me proporcionou compreensão e alegria, mesmo diante da dor.
Numa segunda-feira, morreu um grande amigo do meu filho, um sacerdote da mesma ordem que ele. Há meses Padre Walmir vinha sofrendo com um câncer. Estava há um bom tempo internado e, apesar das dores, dos efeitos colaterais do tratamento e do isolamento imposto a todas as pessoas internadas em hospitais por causa da Covid-19, mantinha uma aura de paz e santidade em torno de si. Todas as manhãs um sacerdote lhe fazia uma visita breve, tempo suficiente para rezar uma missa diante do seu leito. Na segunda-feira, logo após receber a comunhão, enquanto fazia a ação de graças, fechou os olhos tranquilamente e expirou. Morreu santamente como viveu. Teve uma boa morte.
Na quinta-feira da mesma semana, foi a vez do meu tio Deodato. Ele também estava internado por causa de um câncer. Por volta do meio-dia, minha tia e meu primo foram visitá-lo e, ao entrarem no quarto, o encontraram agonizando. Meu primo correu em busca do socorro das enfermeiras e minha tia ficou ao lado dele. Ele já não conseguia falar, mas, pelo olhar, ela entendeu o que ele queria: tirou a máscara e deixou que ele visse o seu rosto e, assim, diante da visão do rosto da sua amada, como o Padre Walmir, ele também partiu. Teve uma boa morte. Ambos tiveram o último encontro com o que mais amavam: um com a Sagrada Eucaristia, o outro, com o rosto lindo daquela menina por quem um dia se apaixonou e que, por 52 anos, foi sua companheira, lhe dando filhos queridos e uma vida permeada de muitos momentos felizes. Desapareceu contemplando a sua Aparecida.
Finalmente, compreendi que a boa morte existe sim e, já que da morte ninguém conseguirá escapar, que ela seja boa para nós, como foi para o grande amigo do meu filho e como foi para o meu tio, que puderam fazer a passagem ancorados em bens tão preciosos: o corpo de Cristo e a linda face da mulher amada.

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