CADA UM DÁ O QUE TRAZ DENTRO DE SI

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Não sei como é aí em Monte Alto, mas, aqui em Mogi Guaçu, basta se colocar uma placa com aviso para não jogar lixo em um local que as pessoas passam a jogar mais lixo do que jogavam antes.

Esta esquina é próxima da minha casa. É um terreno bem grande, uma área pública que ocupa um quarteirão quadrado, sem construções. Há alguns anos, moradores começaram a plantar flores e árvores frutíferas nas extremidades, mantendo a grama roçada e as plantas bem cuidadas. Recentemente, a Prefeitura plantou mais algumas dezenas de mudas de árvores, e logo teremos ali um lindo bosque. Mas, não sei que filhos do demônio, vindos sabe-se lá de onde, fazem questão de descarregar seu lixo em vários pontos deste local.

Estamos enfrentando um problema novo aqui: os viciados em entorpecentes, para os quais se abre um ferro-velho a cada dois quarteirões, no entorno das biqueiras que ocupam cada vez mais espaço, agora roubam os sacos de lixo. Eles passam, esvaziam o lixo, pegam o que possa lhes interessar e largam o resto no chão. Usam os sacos para pedir nas casas. Aquela velha e batida historinha de “Cheguei de longe, estou com a minha mulher e filhos passando fome, não quero dinheiro, me arruma um pacote de arroz, um de feijão, uma caixa de leite, um pacote de macarrão, fraldas para o meu bebê…”. Alguns deles são bem convincentes e muita gente ainda cai nessa lábia. Aí vão colocando as coisas que arrecadam nos sacos de lixo roubados e trocam por droga.

Basta que um desses infelizes jogue o conteúdo de um ou dois sacos de lixo na esquina para vir um filho das trevas e jogar mais um monte de lixo ali junto. Há quem jogue entulho e material resultante de podas de árvores, mas, de uns tempos para cá, joga-se de tudo, coisas que o lixeiro leva, e o caminhão do lixo passa três vezes por semana, mas as pessoas preferem jogar ali. Os viciados começam e os irresponsáveis dão sequência. Dessa forma, de um dia para o outro, cria-se um monte de lixo. Se está sem saco, o lixeiro não leva. Por ser lixo comum, o caminhão da prefeitura que recolhe entulhos e galhos, também não leva. Aí vem o vento, a chuva, os cachorros, e o lixo começa a se espalhar. E logo chegam os ratos.

Esta foto, que tirei hoje de manhã, está bem perto da esquina, seguindo-se em frente, perto da árvore que aparece na foto, tem mais, bem ao lado da placa de “Proibido jogar lixo”, porque a maldade traz consigo a ironia: não basta espalhar o lixo, é preciso irritar e desafiar essas pessoas caretas que mantêm suas calçadas limpas e colocam o seu lixo na rua nos dias e horários certos. Essas pessoas idiotas e detestadas, que pagam os seus impostos e tentam manter um mínimo de ordem e civilidade.

Os que jogam o lixo, sejam os viciados, que fazem isso para roubar os sacos, ou aqueles cretinos que têm o capricho de colocar o entulho de suas obras em uma caminhonete e jogar no primeiro terreno que encontram, em vez de pagar uma caçamba, ou os pseudojardineiros que cobram caro para limpar os jardins das casas mais ricas e vêm desovar os galhos das podas nos bairros menos abastados, enfim, todas essas pessoas jogam na rua aquilo que trazem dentro de si, a desordem que carregam em suas almas, o desrespeito pelo próximo.

Caminhar pelas ruas e ver esse monte de lixo é uma coisa que me irrita profundamente. O bairro onde moro é habitado quase majoritariamente por pessoas idosas. É comum, nas primeiras horas da manhã, vermos senhorinhas ou senhorzinhos com suas pás e vassouras, varrendo suas calçadas.

Temos uma pracinha e alguns moradores cuidam dela. Antes, o serviço era apenas varrer e amontoar as folhas das árvores, até o dia da recolha da prefeitura, cuidar das flores mais sensíveis, pôr comida para os passarinhos. Agora, roubam até o comedouro dos passarinhos. Já não são apenas as folhas das árvores que precisam ser varridas, mas os pinos vazios de cocaína, os copos plásticos, as garrafas de cerveja, os marmitex de isopor com restos de comida e as peças de roupas que eles não querem mais.

Os moradores, que costumavam passar boas horas proseando na pracinha, praticamente não saem mais depois do pôr-do-sol, amedrontados com os jovens com a aparência de zumbi que brotam por ali à noite. Geralmente, os mesmos que pedem mantimentos nas casas e esvaziam os sacos de lixo no chão durante o dia.

Infelizmente, o simples fato de falar sobre isso pode fazer de mim uma “pessoa do mal”. Não há assistentes sociais que venham nos visitar, e nem filantropos que venham perguntar se o nosso salário ou aposentadoria foi suficiente para comprar o remédio, a comida e pagar a conta de luz aquele mês. Ninguém vem falar conosco sobre direitos humanos e redução de danos, mas, se ousamos denunciar essa situação lastimável que se desenrola diante de nossos olhos, sem dúvida, seremos vistos como pessoas más, desumanas, incompreensivas e sem caridade.

Eu não dou esmola ou alimento para nenhum vagabundo que venha bater no meu portão com as historinhas cretinas que eles contam. Antes, sugeria que eles fossem procurar ajuda da igreja, mas, depois de 11 assaltos à nossa paróquia, na matriz em construção e nas capelas, onde tiveram o desplante de roubar cálices e outros objetos sagrados e amassar tudo com martelo para trocar no ferro-velho, nem para lá dá para mandá-los mais.

Podem me dizer que a dependência química é uma doença, mas, é preciso que se reconheça que ela é, num primeiro momento, fruto de uma escolha e permanecer chafurdando no lixo também é fruto de uma escolha, pois tem sempre uma porção de almas boas tentando resgatar esses jovens perdidos, mas eles recusam ajuda. E não adianta apontar a saída para quem não quer sair. Trata-se sim de uma doença, mas uma doença que acomete não apenas aos viciados, mas a todos nós, porque, para que eles continuem caminhando por aí, espalhando lixo, roubando e mentindo para conseguir comida que não comerão, mas trocarão por drogas, as outras pessoas precisam viver trancadas, elevar seus muros. Vivemos sob o domínio do medo, enquanto há um poder público inerte e uma polícia omissa, porque o tráfego é feito a céu aberto, nas esquinas; todo mundo vê, exceto quem tem a obrigação de coibir o crime.

Quando olho para esses jovens sujos, desdentados, perdidos, carregando um saco preto nas costas, imagino quantos pais e mães estão em casa arrebentados de dor, sem saber onde estão os seus filhos, se estão vivos ou mortos. Tenho dó deles. Dos filhos deles, não. E, olha que foi preciso muita coisa para que meu coração endurecesse dessa maneira. Agora, basta um monte de lixo na esquina. Que Deus tenha misericórdia de todos nós, que vivemos sob esse império de Satanás que não há redução de danos ou política de mimimi que possa resolver. Estamos no começo do fim e este é apenas um sintoma disso.

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