Ganhar na Mega Sena

“Um homem se humilha se castram seu sonho. Seu sonho é sua vida e vida é trabalho. E sem o seu trabalho, um homem não tem honra e sem a sua honra se morre, se mata.” (Gonzaguinha – Guerreiro menino)
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Vivemos um período em que o trabalho está escasso. Há poucas décadas, os jovens tiravam a carteira profissional e começavam a procurar emprego aos 14 anos e não tinham muita dificuldade em achar. Só não trabalhavam se não quisessem ou não precisassem. Muitos começavam até com menos idade, e não se tratava de exploração do trabalho infantil. Trabalhar, para a minha geração e outras que a antecederam e sucederam era um prazer, um privilégio, um desafio; trabalho era sinônimo de crescimento, desenvolvimento, independência. Nos dias atuais, por muitas razões, a entrada no mercado de trabalho está sendo cada vez mais retardada e encontramos muitos jovens na casa dos 25 que nunca trabalharam; alguns nem têm carteira de trabalho e, dos que têm, são carteiras virgens, ou por que ainda não conseguiram o primeiro emprego ou por que só conseguiram colocações na informalidade.
São gerações diferentes, mentalidades diferentes, realidades diferentes, mas, trabalhar continua sendo tão importante hoje como foi na minha adolescência ou na dos meus pais, avós, enfim, como foi importante para os nossos ancestrais. A questão é que a própria configuração do trabalho mudou e o que superabundou da revolução industrial até alguns anos atrás, hoje escasseia. A inteligência artificial tem substituído a mão de obra e em pequenas empresas, mesmo sem muitos recursos tecnológicos, o que antes era feito por uma equipe passou a ser feito por uma ou duas pessoas apenas. Resumindo, vivemos uma crise no mundo do trabalho e não são apenas os jovens que estão sendo atingidos. Muitas pessoas estão sendo demitidas de seus empregos, aumentando a população dos desempregados, vivendo dias tortuosos, tendo de abrir mão de seu padrão de vida, às vezes precisando voltar a morar na casa dos pais com esposa/marido e filhos.
O bico tem se tornado uma profissão, as pessoas aceitam qualquer coisa, por mais diferente que seja daquilo que elas sabem e gostam de fazer, apenas para ganhar algum dinheiro para a subsistência. Como vivemos numa sociedade de consumo e pessoas desempregadas reduzem drasticamente o seu consumo é uma situação que afeta toda a realidade, uma bola de neve que vai se formando lentamente, pegando velocidade lentamente, mas, que, em algum momento, encontrará uma ladeira propícia e se tornará uma avalanche destruidora e poucas camadas da sociedade conseguirão permanecer incólumes, sem serem afetadas.
Quando tudo vai bem, a gente deixa de prestar atenção aos detalhes, vamos vivendo a vida que se apresenta, inflando a cultura do desperdício e do “não estou nem aí pra nada”, porque tudo caminha como tem de caminhar e nem refletimos muito sobre qualquer assunto, até nos entediamos com o excesso de normalidade. Engatamos um Zeca Pagodinho e seguimos cantando: “deixa a vida me levar, vida leva eu”. Já nos tempos de crise, as coisas mudam. Pequenos acontecimentos se revestem de grande importância e um simples prato de arroz com feijão pode virar banquete.
Nos últimos tempos tenho acompanhado uma pessoa da família que está empenhada à procura de emprego. Não se trata de um jovenzinho, mas de uma pessoa de mais de 40 anos, há um bom tempo fora do mercado de trabalho. É aquele processo de imprime currículo, leva currículo, muda currículo, faz entrevista, espera, desespera, começa de novo, procura, faz contatos, reza, pega um bico aqui, outro ali, entrega mais currículos, até que, finalmente, surge uma oportunidade. E não uma oportunidade qualquer, mas um emprego na área de especialidade da pessoa, com bom horário, salário razoável, registro em carteira, cesta básica, convênio médico, enfim, tudo aquilo que um desempregado poderia desejar e que talvez já tenha até deixado de acreditar, porque, quando a coisa tá ruim, quem quer mesmo trabalhar pega o que aparece e agradece de joelhos. Nesse caso, porém, trata-se de um excelente emprego, um presente celestial, de fato.
Como meu familiar é daí, de Monte Alto, e está há muito pouco tempo aqui em Mogi Guaçu e não conhece muito da geografia local, fui com ele até o laboratório onde ele foi fazer o exame admissional. Poucas vezes na minha vida me senti tão feliz ao ver alguém tão feliz. Como é gostoso partilhar a felicidade de outra pessoa! Principalmente quando se trata de alguém que a gente ama. O sorriso estampado no rosto, a emoção na voz, o tremor nas mãos, o brilho nos olhos. Tudo muito significativo, muito contagiante.
Naquela ensolarada e fria manhã, eu vi uma ponte sendo construída sobre um rio de incertezas. Uma ponte que separa o antes e o agora. O longo período de busca, de muitos nãos e tentativas frustradas, de gente olhando para aquele homem adulto, forte, capaz, sentado na sala de casa e pensando, bem lá no fundo de suas mentes: “Ah, ele não trabalha porque não quer. Um vagabundo.”, porque, embora isso seja triste, as pessoas, infelizmente, têm essa maldade que as faz julgar e condenar.
Mas, só quem nunca esteve desempregado, só quem nunca viu uma pessoa se humilhando e passando necessidade por não ter emprego é capaz de ter pensamentos assim. É certo que tem gente que não gosta mesmo de trabalhar, mas, não devemos generalizar, porque há uma multidão de homens e mulheres adultos que dariam tudo para ter a oportunidade de um emprego. Como meu sobrinho me disse, emprego é honra, é dignidade, é a certeza de pertencimento, é cidadania, é vida, é luz. Sou muito grata a Deus por estar tendo a oportunidade de acompanhar esse processo, de vivenciar essa emoção e torço muito para que as coisas neste país se alinhem para que muito mais gente possa ganhar esse prêmio da Mega Sena: CTPS, duas fotos 3X4, xerox dos documentos, um potinho para colheita de fezes e uma seringa de sangue num exame admissional. Algo que não tem preço e que ressignifica toda uma existência.

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