Inveja: pecado, doença ou desvio de caráter?

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Quem de nós já não sentiu um apertinho no coração ao ver um amigo fazendo aquela viagem maravilhosa ou aquela mulher com corpo perfeito, que chega na festa com um vestido que parece ter sido feito especialmente para deixá-la ainda mais linda, enquanto em nosso corpo sobram umas gordurinhas e nosso modelito não ajusta como gostaríamos? Ou quando um colega de trabalho recebe aquela promoção que esperávamos que fosse dada para nós? O vizinho que pinta a casa de uma cor que a destaca no quarteirão todo ou o outro que compra o carro dos sonhos, humilhando o nosso velho “Pois é”? Este sentimento é a inveja e é inato ao ser humano, manifestado até pelo bebê que faz de tudo para chamar a atenção por invejar o entrosamento dos pais. Um sentimento tão normal que criou-se até o termo “inveja branca” para definir uma suposta inveja boa, sem más intenções.
A inveja é tão importante na história do homem que está presente nos registros mais antigos e parece existir desde a época da criação. De acordo com os escritos bíblicos, quando Deus criou o homem, um de seus anjos mais importantes, Lúcifer, que fazia parte do primeiro escalão, sentiu inveja do amor de Deus por sua criatura e fez um furdunço no Céu, criando a primeira rebelião de que se tem notícia e a primeira ideologia de protesto, que teve a adesão de um terço do corpo angelical, e despencaram todos para a Terra a fim de atazanar a vida do frágil homem que acabava de nascer e aqui estão até hoje, sofisticando cada vez mais seus mecanismos de tentação e maldade.
Ainda na Bíblia, logo após o vacilo de Eva, que se deixou seduzir pelo anjo maligno, e de Adão, que se deixou seduzir pela Eva e criou o mecanismo de por a culpa no outro (que funciona muito bem até os dias atuais), vem a história terrível de Caim que, também por inveja, assassinou o seu irmão Abel. Podemos dizer que a inveja é praticamente parte de nosso DNA. Mas, como algumas doenças às quais temos predisposição genética, a questão é se ela se manifesta ou não. Sermos predispostos ao diabetes, à asma ou ao câncer não afeta em nada a nossa vida, o que afeta são os gatilhos que fazem essas doenças se manifestarem. Com a inveja, não é diferente.
Podemos curtir as postagens do amigo que está viajando (enquanto ralamos) e torcer pela diversão dele, tocando nossa rotina, sem morrermos por causa disso. Da mesma forma, podemos admirar o vestido bem ajustado daquele mulherão na festa e até nos sentirmos incentivadas a melhorar um pouco a nossa silhueta. A cor da casa do vizinho pode servir de referência quando precisamos explicar para alguém onde moramos: “Você pega a Rua tal, vira na segunda à direita, minha casa fica duas casas abaixo daquele sobrado mostarda, lindo.” E o carrão na garagem da casa ao lado pode nos estimular a organizarmos nossas finanças para trocarmos nosso carrinho velho, ou não, pois podemos reconhecer que aquele carro não faz parte de nosso padrão de vida e que não seremos menos felizes por não tê-lo. Se a promoção foi dada a outra pessoa e não a nós, pode ser que não estejamos produzindo tanto quanto deveríamos e isso pode ser o indicativo da necessidade de fazermos um upgrade em nossa carreira.
Enfim, o sentimento de inveja é como uma respiração profunda, algo que vem, nos faz dar uma pausa e passa, podendo ter sua utilidade ou não significando absolutamente nada. O problema está quando a inveja nos domina, nos controla e nos faz viver o inferno na Terra e, claro, fazer da vida dos outros um inferno pior que o nosso, pois um invejoso jamais conseguirá estar bem se o alvo de sua inveja não estiver mal, destruído e, como no caso de Abel e Caim, eliminado.
Os religiosos de todos os matizes classificam a inveja como um dos piores pecados que existem, com um potencial destruidor como nenhum outro. O invejoso sofre e prejudica a si mesmo e faz sofrer e prejudica todos os que estão no raio de alcance de seu poder de invejar. A mitologia grega tratou desse tema com o mito de Dédalo, um brilhante inventor que contratou seu sobrinho Talos para ajuda–lo, porém o jovem superou o tio com seu talento e este, não suportando que o aprendiz brilhasse mais do que ele, matou-o. Nem todos os invejosos matam aqueles de quem sentem inveja, mas, com certeza sentem vontade de fazê-lo. Sabe quando você conquista alguma coisa e uma pessoa, às vezes muito próxima de você, não raro da sua própria família, te dá aquele olhar de “seca pimenteira”, faz algum comentário irônico e jocoso e chega a adoecer por causa de seu sucesso? É algo que dói, que machuca, porque o invejoso crônico não consegue se conformar com o brilho do outro e tenta, de todas as formas, prejudicá-lo. O invejoso perde a sua sanidade mental e emocional e, muitas, mas muitas vezes mesmo, consegue fazer com que aqueles que convivem com a sua patologia também percam o equilíbrio. Não é um índio ianomâmi ou um morador da Coréia do Norte que vai sentir inveja de você e tentar te prejudicar, às vezes é seu tio, seu irmão, sua sogra, seu melhor amigo ou até a sua própria mãe.
O psicólogo Davi Roballo afirma que a matriz da inveja reside no fato de uma pessoa não reconhecer que é única no mundo, que não existem dois seres humanos iguais e querer, de todo jeito, viver a vida do outro. O invejoso prefere não ter, desde que o outro também não tenha. Se ele tem e o outro não, ele é feliz, mas, se o outro passa a ter, aí começa o seu tormento. Ninguém pode ter o que ele não tem, sobretudo a felicidade que ele jamais consegue conquistar por olhar tanto para o que é dos outros e não conseguir valorizar o que lhe pertence.
Nietzsche dizia que “a inveja é uma chaga intrínseca que sangra diuturnamente no peito do invejoso”. Alguns não conseguem conviver com a dor provocada por esse vazio e pela impotência que toma conta do seu ser quando encontra pessoas com talento e qualidades capazes de obstruir o seu brilho, então, agem como Dédalo e tentam, de todas as formas, tirar do seu caminho aqueles que o fazem sentir tão mal. O complexo de inferioridade é o combustível que alimenta a inveja.
Outro psicólogo, Divanício Pessoa, explica que as ciências do comportamento definem a inveja como um mecanismo psicopatológico que pode ser expresso por palavras, atitudes, humor e de forma subliminar, com muitos disfarces e sutilezas como comportamentos negativos e controladores, atitudes muito amigáveis e pegajosas, típicas do bajulador, ou aquelas das pessoas que, a pretexto de serem sinceras e falarem o que pensam, são extremamente grosseiras e estão sempre criticando as atitudes dos outros. O invejoso raramente elogia alguém e, quando o faz, consegue destilar algum veneno, coloca um “mas” com uma crítica embutida, numa tentativa de frustrar o sucesso alheio, menosprezando e ridicularizando as pessoas bem sucedidas e motivadas. Ele deseja destruir vorazmente o semelhante, nocauteá-lo, e ri desdenhosamente da condição de miséria e insucesso do outro. Há algumas pessoas que, como na música, dizem: “contra o mal olhado carrego o meu patuá”, mas, contra a inveja patológica, não há patuá que resolva, dado o seu poder de destruição.
Já a psicóloga Érika Ricci vai mais longe e define a inveja patológica como uma síndrome complexa que está presente em alguns transtornos neuróticos e em alguns processos psicóticos e a sua forma mais grave é o recalque, considerado como uma ‘evolução’ da inveja. Ela diz que “a inveja é aliada da falsidade e faz mal para os dois lados, para o invejoso e para o invejado, pois é um sentimento intoxicante que consome qualquer pessoa e destrói todo solo fértil. É um sentimento que amarga a existência, mata o que está vivo e se move rápida como um tsunami.”.
Devemos nos avaliar e tentar mudar ou até procurar um tratamento se o invejoso formos nós, mas, se formos o alvo, o remédio é nos fortalecermos muito e evitarmos a convivência com as pessoas que têm suas vidas consumidas por esse sentimento tão nocivo, porque uma pessoa invejosa é muito infeliz e é imenso o seu potencial de destruição e a sua capacidade de tornar o outro infeliz também.

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