Durante anos, décadas, tenho escrito aqui a história de pessoas que entrevistei, porém, doravante, de vez em quando, escreverei sobre a história de quem necessariamente não entrevistei. Nesta edição, vou falar sobre o Dr. Adauto Freire de Andrade, com o qual fiz uma breve entrevista há mais de trinta anos para a Rádio Cultura de Monte Alto, porém, os dados para a coluna de hoje, colhi em uma entrevista que fiz com o seu filho mais velho, Dr. Adautinho e também no livro do nosso saudoso historiador Professor Luiz Carlos de Vicente. Nela juntei tudo o que ouvi e pesquisei para escrever para você, meu leitor que não conhece a fantástica vida deste homem, que se mistura com a existência de Monte Alto.
Dr. Adauto Freire de Andrade
Era nordestino, nasceu no dia 14 de março de 1903, em Pedra de Fogo, na Paraíba, que hoje pertence à grande João Pessoa. Cursou a Faculdade de Medicina na Praia Vermelha, no Rio de Janeiro, e formou-se no ano de 1927.
A convite do amigo e médico Dr. Emil Pio Daneluzzi, no ano de 1928, veio a Monte Alto para uma espécie de férias, no entanto, o destino quis que aqui ficasse para sempre. Ingressou como médico da Santa Casa e logo em seguida, conforme me contou seu filho Adautinho, ele teve a maior surpresa quando seu amigo Emil Daneluzzi, que o trouxe para Monte Alto, chegou para ele e disse: “Adauto, eu vou embora”. E aí, o seu pai respondeu: Como Emil, tu me trouxeste para tua terra e agora vai embora? O amigo respondeu: É amigo, são coisas do destino e eu preciso ir, porém, você gostou de Monte Alto fica ai, amigo, esta cidade é maravilhosa.
Assim começou a história, em Monte Alto, de um dos homens que muito contribuiu para ela ser o que é hoje. O Dr. Adauto Freire casou-se no Rio de Janeiro com Dona Guiomar Martins de Andrade e da união nasceram seis filhos. Foi médico da Santa Casa e também tesoureiro durante 14 anos. Foi fundador dos Jogos Abertos do Interior em 1936, e também, do Aeroclube Civil de Monte Alto e seu presidente nos anos de 1943, 44, 45 e 46, quando inclusive adquiriu o terreno e fundou sua sede com recursos próprios. Criou o emblema do clube e recebeu o brevê de Aviador Civil. Foi também durante 25 anos Diretor da Cooperativa Agrícola de Monte Alto, hoje Sindicato Rural.
O Político e o Médico
Adauto Freire de Andrade entrou na política pelo Partido PR, tendo sido vereador por dois mandatos; exerceu também o cargo de presidente do Conselho que administrava a Câmara Municipal no ano de 1936. Embora vereador, nunca deixou sua função de médico, inclusive, nos anos que ficou na Câmara, o cargo não era remunerado.
Fez inúmeras ações pela sociedade sem ter fins lucrativos. Foi Juiz de Paz e, pelos serviços prestados à comunidade, recebeu a medalha da Sociedade Brasileira Heráldica no dia 15 de maio de 1963 e também a Medalha José Bonifácio.
O Dr. Adauto foi também Presidente da Associação Paulista de Medicina Regional de Jaboticabal e foi um líder importantíssimo no cenário Regional da Medicina. Foi também Professor e Diretor da Escola Deodoro de Arruda Campos.
Um ‘causo’ que o Dr. Adautinho me contou em entrevista foi que seu pai contava uma história que ocorreu quando morava na Rua Dr. Raul, esquina com a Herculano Livramento. Após ter ido atender dois pacientes no sítio, de charrete, pois na época não passavam carros nas estradas rurais, chegou em casa muito cansado e estava tomando banho já tarde da noite, quando dois rapazes passavam conversando e um disse para o outro: “quem leva a vida é o Dr. Adauto, aqui é a casa dele. Nesta hora deve estar tirando seu sono tranquilo” O outro respondeu: “É companheiro, quem pode, pode! Pensa que é como nós, que temos que trabalhar na Cica sem ter hora certa para dormir?”. Ambos eram funcionários da Indústria CICA de Alimentos, principal empresa da cidade na época.
Dr. Adauto contava para os filhos esta história e rindo, dizia: “Mal sabiam eles o quanto eu já tinha trabalhado e o quanto eu estava cansado naquela noite.
Adauto Freire, o Religioso e os Hinos
Católico praticante, foi fundador da Irmandade do Santíssimo Sacramento do Bom Jesus de Monte Alto em 1930; presidente da comissão de Administração Paroquial e Ministro Extraordinário da Eucaristia. Músico e compositor, foi autor de vários hinos, entre eles, os Hinos dos Colégios: Sagrada Família, de Goiânia; Colégio Santo André, de Jaboticabal; Hino do Padroeiro, Senhor Bom Jesus e o Hino de Monte Alto. Sobre o hino de Monte Alto, tem uma História interessante: talvez por a cidade ter pertencido à Comarca de Jaboticabal, que é conhecida como “Cidade das Rosas”, Monte Alto era conhecida antigamente por “Cidade das Flores”, porém, baseado na história de seu fundador Porfírio Luiz de Alcântara Pimentel, que sonhou com a cidade que fundou, o Dr. Adauto Freire mudou o nome para “Cidade Sonho” e deu ênfase no seu hino. Na estrofe que fala: Cidade Sonho… Ele era um poeta que valorizava, em prosa e verso a cidade e seu povo.
Condecorado pelo Imperador do Japão
No centenário de Monte Alto, em 1981 o Dr. Adauto Freire de Andrade foi condecorado pelo Imperador do Japão com a “Ordem do Sol Nascente“, pelos serviços prestados à colônia japonesa de Monte Alto e a importante homenagem ficou registrada nos anais da história da Imigração Japonesa no Brasil e na própria história de Monte Alto. Como este ano de 2021 foi um o ano das Olimpíadas e foram realizadas no Japão, quero terminar esta coluna com o hino de Monte Alto e um ‘Arigatô’. Obrigado, Dr. Adauto Freire de Andrade, por ter existido.
HINO DE MONTE ALTO
Monte Alto “Cidade do Sonho”,
Que Porfírio Luiz nos legou.
O teu povo bom, forte e risonho,
O progresso em teu solo implantou.
Tens riquezas, tens encantos mil,
O teu céu tem mais cor, tem mais luz.
Salve, ó terra de São Paulo e do Brasil,
Onde reina o Bom Jesus!
Monte Alto, meu berço adorado,
Santuário de paz e de amor.
Possa eu viver sempre a teu lado,
Em constante e profícuo labor!
Bendizendo as glórias do passado,
E construindo um futuro sem par.
Pois tu és meu Monte Alto amado,
Meu Brasil, meu sol, meu lar!
