Mulheres de Meia – Tempo de Incertezas

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Nas primeiras fases da pandemia, quando o Brasil ainda estava praticamente fora da lista de países infectados, víamos imagens devastadoras de ruas e espaços públicos completamente vazios em diversos países. Nos chocamos com a imagem do Papa Francisco rezando sozinho na Praça de São Pedro. Nos solidarizamos com as pessoas que tinham de ficar reclusas em suas casas, tendo autorização para sair apenas para comprar alimentos e remédios. Isso aconteceu primeiro em Wuhan, depois na Itália, na França, na Alemanha, na Espanha, na Índia, nos Estados Unidos. Tínhamos notícias de brasileiros que moravam nesses locais e nos contavam, através das mídias sociais, como estava sendo difícil viver no isolamento e nos alertavam sobre os perigos e a seriedade da situação.
Porém, quando chegou a vez do Brasil, quando foi a hora de nos isolarmos para evitar um colapso total no sistema de saúde, para garantir o achatamento da curva, a preservação da saúde e da vida das pessoas, sobretudo as mais vulneráveis, nada disso aconteceu. Não houve ruas vazias, pessoas respeitando, de fato, as medidas de isolamento e de distanciamento social. A qualquer hora do dia, qualquer dia da semana, as ruas estão cheias, alguns locais chegam a estar lotados. E até mesmo o uso da máscara, que se tornou obrigatório, é respeitado, pero no mucho. É comum vermos pessoas circulando normalmente, muitas acompanhadas dos filhos pequenos, como se estivessem em algum outro lugar qualquer do universo, menos no país que é, hoje, o epicentro do Coronavírus.
O que há de errado conosco? Talvez sejamos confiantes demais, talvez sejamos irresponsáveis demais, talvez sejamos tolos, talvez sejamos cruéis. E, é certo, escolhemos errado nossos super-heróis, dando ouvidos para semideuses que pregam o contrário do que prega a lógica, a ciência e o bom senso. Talvez nos achemos “fodões”, os caras, os invencíveis, os atletas. Porém, como não somos nada disso, mas apenas seres humanos, vulneráveis, sensíveis, de carne e osso, potencialmente abertos para a contaminação, estamos sendo contaminados cada vez mais rápido e em maior número, e morrendo. Mas, porque aprendemos a ser alimentados por fake news, acreditamos num monte de bobagens, que o número de mortos é forjado, que as coisas não estão tão mal assim, que quem morre ou era velho ou tinha alguma comorbidade, e que o mundo está contra nós, ou melhor, contra nosso messias salvador, aquele que não faz milagres.
Esta semana foi uma semana difícil. As temperaturas baixando, o que torna muito mais propícia a disseminação de vários tipos de vírus causadores de gripes e outras doenças respiratórias, além da Covid-19. Deitamos nas nossas camas com dois, às vezes até três edredons ou cobertores, e dormimos quentinhos, enquanto muitos de nossos irmãos dormem ao relento e já começam a morrer de frio, morrer de gripe, morrer de pneumonia e, claro, morrer de Covid-19. Mas, por causa de nosso comportamento negacionista, parece que tudo é obra de ficção, tudo está muito distante, não há corpos sendo abandonados nas ruas, como aconteceu no Equador, após o colapso do sistema funerário, nem fileiras de caixões lotando interiores de igrejas, como aconteceu na Itália. Está todo mundo tranquilo, andando nas ruas, fazendo suas coisas, arriscam-se até algumas festinhas, o comércio vai começar a reabrir, logo logo poderemos voltar a passar nosso tempo ocioso nos corredores dos shoppings.
Sim, tudo é muito distante, são apenas gráficos e estatísticas, e até mesmo os rostos, os nomes e as histórias de pessoas mortas, mostradas pela imprensa nos comove, afinal, a imprensa é a nossa grande inimiga, é do mal, só quer tumultuar e destruir, e conspira para derrubar nosso presidente. Espera aí, temos presidente? Bem, isso não vem ao caso quando não queremos ver, não queremos ouvir, não queremos acreditar. Só tomamos um choque de realidade, dura realidade, quando as tragédias começam a acontecer perto de nós, quando as vítimas não são mais estatísticas, números, corpos sem rosto e sem identidade envolvidos por uma embalagem plástica, muitas enterradas em vala comum, sem direito a despedida.
Embora tenha andado na contramão da direção que parece ser a que consegue maior adesão e tenha me mantido em casa, só saindo para coisas essenciais, e sempre use máscaras, com conhecidos e desconhecidos, embora não tenha mais abraçado ninguém, tocado a mão de ninguém, ainda assim, esta semana tive uma dose extra de realidade. Primeiro recebi a notícia de que uma grande amiga, de mais de 30 anos de amizade, foi contaminada pelo Coronavírus; não pegou apenas uma gripezinha, mas uma síndrome que a derrubou, deixou de cama, sem conseguir comer, sem forças para tomar banho ou simplesmente ir ao banheiro e foi tirando sua capacidade de respirar. Depois de idas e vindas a médicos e postos de saúde, ela conseguiu uma vaga e está internada, em São Paulo. A última notícia que tive dela é que provavelmente seria entubada. Ironia, ela trabalhou a vida toda como enfermeira e, mesmo depois de aposentada, trabalhava como cuidadora de idosos. Uma pessoa que dedicou a vida a cuidar da saúde das pessoas.
Além dessa triste notícia, hoje fui surpreendida com outra. Um grande amigo, meu padrinho de casamento, gestor dedicado, há dezoito anos numa empresa, tendo seu trabalho como sua grande prioridade, foi demitido. Medida de contenção de gastos por causa da crise. Recebeu o aviso da demissão por e-mail. Provavelmente, foi o primeiro de muitos de sua unidade. Tempo de incertezas. Um homem que fez da carreira, da dedicação ao trabalho, sua vida. Um gestor humano, respeitado e querido por sua equipe. Hoje é o aniversário dele. Pior dia possível para receber notícia tão amarga. Seu mundo caiu. E assim é. Não são apenas gráficos, não são apenas estatísticas, não são exageros, não são mentiras. É uma fase muito triste, a pior que já vivemos. O que será preciso para acreditarmos que tudo isso é real?

Isa Oliveira (Izilda), nasceu em Monte Alto, reside em Mogi Guacu/SP, é formada em Letras pela USP. Trabalha na Caixa Econômica Federal. É autora dos livros Elogio à loucura e O chapéu de Alberto. E-mail: isaoliveira1965@gmail.com

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