O sapo e o escorpião

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Certa vez, ouvi uma historinha que achei muito interessante e hoje resolvi recontá-la do meu jeito, acrescentando detalhes que não havia na versão original, mas que a deixarão mais bonitinha e permitirão que alguns se identifiquem com ela, trazendo-a para o contexto de suas realidades.
Conta a fábula que um sapo repousava tranquilamente, depois de seu costumeiro almoço, à sombra de uma touceira de capim, às margens da enorme lagoa onde morava. Enquanto contemplava as suaves ondulações sobre a água, provocadas pela brisa da tarde, o sapo de meia idade, já um tanto obeso e um pouco estrábico, pensava como era boa a sua vida. Tinha um relacionamento estável e duradouro com uma “sapa” muito jeitosa, já colocara uma boa quantidade de filhos no mundo, amava aquela lagoa e os seus entornos, tinha comida farta, paz, sossego e alegria.
– Tarde quente, né?
O sapo olhou para um lado, olhou para o outro e não viu ninguém. Imaginou estar ouvindo coisas.
– Eita, será que estou ficando caduco?
– Oi, estou aqui embaixo. Bem aqui, ó.
O sapo olhou, olhou, até que viu uma caudinha elevada se mexendo com agitação. Era um escorpião bem grande para a sua espécie.
– Sai pra lá, bicho! Eu não te como e você não me pica!
– Calma, amigo! Eu sou da paz.
– Sei… Conheço sua fama, prefiro que você vá ser da paz lá do outro lado.
– Pois é exatamente sobre isso que eu quero te falar. Minha família está toda do outro lado, eu vim parar aqui acidentalmente, depois de ter dormido sobre umas toras de madeira que foram carregadas por uma canoa. Veja você, cochilei e vim parar do outro lado do mundo.
– Pois então volte pro lugar de onde veio
– Então, amigo, esse é que é o problema… Você sabe, né? escorpiões não atravessam a água, a gente não sabe nadar…
– Problema seu, aqui é que não dá pra você ficar.
Bem, pra desencompridar essa conversa, devo dizer que o escorpião era muito persuasivo e tinha o dom da retórica, sabem aquele jeitinho especial e meigo que algumas criaturas têm quando querem ganhar alguma coisa, obter algum favor ou alguma vantagem? Assim, com algumas mesuras e delicadezas, o bichinho peçonhento acabou convencendo o velho e até então prudente sapo a auxiliá-lo na travessia. A única maneira de fazerem isso era ele subindo nas costas do sapo, que muito relutou, pois sabia que podia ser picado pelo escorpião e “hasta la vista, baby!”. Mas, o bichinho era manhoso, malandro, conseguiu passar segurança e convencer o sapo de que não tinha sentido fazer uma coisa dessas, pois, se o picasse, ele afundaria e morreriam os dois.
Deixando de lado a prudência e toda a sua experiência de vida, o sapo finalmente concordou em executar a empreitada. O que o escorpião dissera fazia sentido, caso ele o picasse, morreriam os dois. Logo que começaram a travessia, o escorpião era só gentileza, não cansava de elogiar o sapo, dizendo que ele era forte, prestativo, amigo dedicado, incomparavelmente bom. Caminharam um pouco mais e ele começou sutilmente a reclamar que a pele do sapo era muito áspera. Logo depois falou que, se ele não estivesse tão gordo, conseguiriam ir muito mais rápido. O sapo protestou e, astuto, logo ele disfarçou, dizendo que era só brincadeirinha, mas, o sapo se sentiu magoado, afinal, deixara o seu conforto, o seu repouso, a sua tranquilidade para se arvorar numa travessia longa e cansativa, apenas com o desinteressado propósito de ajudar o outro, pois ficou comovido com a história dele de ter dormido sobre a madeira e se separado da família. Continuaram.
Quando chegaram bem no meio da lagoa, o escorpião começou a se mostrar entediado, a dizer que a travessia não acabava mais, que as costas do sapo não eram tão confortáveis e isso e aquilo e… quando menos esperava, o sapo sentiu uma dor aguda e lancinante em suas espáduas, soltou um gemido alto enquanto o veneno mortal se espalhava pelo seu corpo.
– Maldito! Você me picou! Eu deixei a minha vida lá atrás, o conforto da minha casa, a minha esposa, os meus amigos, para atravessar você e você me pica? Seu traste imundo! Você deu a sua palavra que não faria isso!
Com a cara mais lavada do mundo, mesmo sabendo que o ato insano punha fim à sua salvação e ao seu retorno à vida segura, com uma boa dose de cinismo, o escorpião pronunciou algumas palavras que o sapo não ouviu, pois, seu corpo cansado já afundava, paralisado pelo veneno:
– Me desculpe, amigão, é a minha natureza.
Quantos de nós nessa vida são imprevidentes e ingênuos como esse sapo e quantos, mesmo se prejudicando, destilam seu veneno sobre quem lhes estende a mão apenas para cumprir com o que julgam ser a sua natureza? Dedicação e lealdade parece de nada valer para quem age assim.
É preciso estarmos atentos, olharmos bem para a extensão da lagoa e para os propósitos de quem deseja, nas nossas costas, fazer a travessia, porque, no fim, morre o sapo e também se fina o escorpião. Histórias que poderiam ter finais diferentes, mas que, infelizmente, se repetem à exaustão.

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