LEITO CARROÇAVEL
Até 1963, em Monte Alto, a Rua Nhonhô Livramento (rua do Centro ou do Comércio) era mão única no sentido contrário ao atual, ou seja, a preferencial começava no São Benedito e acabava na Cica, depois se tornava a rodovia municipal Monte Alto/Pirangi com acesso a Vista Alegre do Alto.
Na época a linha intermunicipal era um monopólio da empresa rodoviária Pitelli cuja frota era de uma jardineira (ônibus), na qual o proprietário Sr. Pitelli, era motorista, cobrador, mecânico e outras funções necessárias. O ponto de partida da jardineira era no centro da cidade, do bar do Sakoda, com cerca de 3 horários por dia, o primeiro era às 8h da manhã. Até a saída na Cica, o Pitelli parava em todos os quarteirões para apanhar passageiros e coletar encomendas.
A jardineira tinha o apelido de Coração de Mãe, sempre cabia mais um, quando faltava lugar nos assentos, o passageiro era conduzido para o teto, junto com as malas, lá se acomodava entre sacos de mantimentos comprados no comércio.
Onde hoje é o bar do Faustão havia um salão de barbeiro, cujo profissional era o Sr. Bertoz. Quando algum freguês queria cortar o cabelo e precisava tomar o ônibus e a hora estava para se esgotar, o Expressinho (esse era o apelido do Sr. Bertoz, devido a rapidez que cortava), se dirigia ao meio da rua, colocava as mãos sobre os olhos para formar um quebra-sol, permitindo enxergar com nitidez a jardineira ainda na saída do bar. O Expressinho mandava o freguês sentar na cadeira e coloca a máquina, o pente e a tesoura em ação. Assim que dava a última tesourada no corte modelo americano, a jardineira parava em frente. O freguês pagava, agradecia e entrava no veículo, funcionando em ponto morto.
(Certa vez vi uma cena comovente entre o Sr. Bertoz e um freguês, que já estava sentado na jardineira, ele entrou com a tesoura e o pente para aparar uma mecha que havia escapado do seu olhar na cadeira).
Na frente da barbearia havia um bar (hoje Bar do Basílio) cujo dono era o Sr. Benedito de Oliveira, que ganhou o codinome de Sete Facadas, porque vendia os doces e salgadinhos mais caro que a concorrência.
O trajeto entre Monte Alto e Pirangi, com as paradas no caminho durava cerca de 2 horas, a volta meia hora a mais devido à serra. Com chuva demais a subida da serra era o maior obstáculo, a jardineira não subia, mesmo que não estivesse lotada. Ao chegar no pé da serra era acionada um código, três buzinadinhas intercaladas e cerca de 10 minutos depois, um empregado do Sr. João Rossi chegava com uns tratorzinhos Valmet e rebocava a jardineira até o final da subida. Alguns passageiros subiam a pé perto do trator. (Em 1969 os EUA foram à lua, a viagem foi um sucesso, com um pouco mais de treino dava para o Pitelli chegar junto).
VELHA CAPI
Florianópolis, capital de Santa Catarina, originalmente se chamava Desterro. O nome atual foi uma homenagem ao segundo presidente da República do Brasil, Floriano Peixoto, conforme a definição linguística (Cidade de Floriano).
Com a renúncia de Marechal Deodoro da Fonseca, 1º Presidente do país, o vice assume o cargo prometendo a realização de eleições legais no prazo constitucional de dois anos. Não cumpriu o prazo e ainda permaneceu no cargo por mais quatro anos. Os dois mandatos presidenciais, Deodoro e Floriano, militares duraram oito anos, que Rui Barbosa chamou de Ditadura da Espada. Logradouros públicos espalhados pelo Brasil foram homenagens precipitadas para Floriano, que enfrentaram vários movimentos cívicos para serem canceladas. A capital Florianópolis permaneceu com o nome. Monte Alto tem uma rua Floriano Peixoto. Outro nome para os dois governos militares do Brasil dado por Rui Barbosa foi República da Espada.
QUARTEL
Como na história recente do Brasil, ocorrida entre 1964/1985, não houve nenhum Rui Barbosa, o governo ditatorial do período não foi chamado de República da Espada, Governo da baioneta ou Fuzil da Paz. Todos tinham a mesma identidade, militares no poder. Existem outros epítetos, mesmo que não sejam Barbosa/Rui para registro na história contemporânea desse período, que muitos desejam a volta.
Falta ao Brasil Ruis Barbosas para pelo menos registrar os governos com seus nomes adequados. Registre-se Rui perdeu três eleições para Presidente da República foi nomeado Ministro da Fazenda e quebrou o Brasil com uma prática de empréstimo internacional impagável cujo nome era “encilhamento”. A dívida da operação foi dividida em 100 anos, bem a gosto dos EUA. Nunca foi paga, era somada nos saldos remanescentes das outras futuras dívidas.
TERRA BRASILIS
A partir de 1534, Portugal começou a enviar cidadãos livres para as colônias, entre elas o Brasil, os degredados vieram logo em 1502. Conta-se que em 1498, o navegador Vasco da Gama, em viagem a Calicute (Índia), ao passar 100 legues longe da costa brasileira soltou um grupo de prisioneiros para se tornarem livres no país, chegaram a nado, os que escaparam dos tubarões caíram na boca dos canibais.
Depois disso todos os lusos vindos da Europa, livres ou não, obrigados ou por vontade própria continuaram portugueses, para sua própria proteção. Ninguém foi brasileiro, os que mudaram de identidade passaram a ser baianos, pernambucanos, paulistas, gaúchos, cearenses e com nomes de sesmarias.
O chamado racismo estrutural do país nasceu naquele tempo. A vinda dos negros agravou o sentimento e segracionismo moral.
