NOVO NORMAL
Durante as restrições de comportamento impostas pela pandemia, o Brasil fazia planos para o fim dela, não se pensava na construção de novos hospitais, de nova fábrica de vacinas e medicamentos para o combate do vírus e de suas variações. Governo e povo estavam focados em um objetivo: o Carnaval. Mesmo sabendo que foi com o carnaval que a pandemia pousou no país, os contaminados chegaram aqui nos aeroportos com a ideia de que uma terra de terceiro mundo, com ou sem coronavírus, não seria pior do que já era. Mais uma vez a Europa fez da América escrava e o deslumbramento de receber estrangeiros contaminou o brasileiro. Chegaram os dólares, os euros e nova moeda: o vírus.
Se um país tem entre 10 e 15 estádios (arenas) com capacidade para mais de 100 mil pessoas cada, para ver o melhor futebol do mundo, o nacional, que foi importado dos ingleses, que se apresentavam com suas equipes distraindo o moleque brasileiro enquanto construíam estradas de ferro em zigue-zague, para que a metragem linear aumentasse de comprimento e o Brasil pagasse em ouro, pedras preciosas e madeira. O mesmo país estava pronto para receber o turista estrangeiro com sambódromo e passarelas com as estrelas pulando nos carros alegóricos.
O novo normal está pronto para assumir o trono brasileiro da hipocrisia nacional. Os gênios da era pós-pandemia estão construindo hospitais com estruturas para atender a volta do coronavírus e outros semelhantes, basta que morra outro milhão, direta ou indireta de pessoas em plena capacidade produtiva e intelectual.
A opinião pública nacional não tem autoavaliação, a culpa sempre é do governo. O mesmo governo eleito pela incapacidade política do povo. Um povo que permite que os parlamentares se refiram ao poder executivo como governo a eles, o parlamentar se exime de exercer o real governo e sobre todos, surge o judiciário, que na eterna alegação de cumprir a lei não determina sequer o que é a lei.
O novo normal do Brasil é a sequência da anormalidade vigente constitucionalmente. Os três poderes exercem, cada qual, o seu poder bem ou mal, falta o QUARTO PODER assumir o trono de vez – O POVO!
TELEJORNAL
Nos acidentes automobilistas se os carros envolvidos são tradicionais, as marcas não são citadas, caso um ou ambos sejam de marcas internacionais, tipo Mercedes, Masserati ou outras, acontece o destaque. Fica parecendo que os proprietários desses veículos são mais culpados que os demais, pelo fato do valor. Se dois fusquinhas colidem, mesmo morrendo todos os ocupantes a marca e modelo sequer são citadas. Seria um preconceito quanto à ostentação?
CROQUIS
Os ricos dos séculos passados, além da posse monetária, precisavam mostrar cultura, que na época se resumia à leitura de livros clássicos e de conhecimento. Nas casas era imprescindível o espaço para a biblioteca, de preferência à mostra dos visitantes e parentes, o importante não era ter cultura, era mostrar cultura. As bibliotecas faziam inveja, juntamente com o clássico piano.
Quando os mestres de obras perguntavam que tamanho deveria ser a estante de livros, não era raro o proprietário responder que tendo um espaço para a Barsa (enciclopédia britânica) era o bastante. Também acontecia um fato inusitado: um volume de uma obra clássica muitas vezes se encontrava intacta na estante, embalada com o lacre de celofane. Era o livro decorativo!
NOVOS TEMPOS
Foram-se as estantes e apareceram os modernos aparelhos eletrônicos, destacando-se o televisor (ninguém compra televisão, a não ser os Marinhos, Silvio Santos e Bispo Macedo, compra-se o aparelho de TV). Quanto ao televisor moderno, pouco importa ao rico o possível conteúdo da programação, mas os tamanhos das telas. Polegadas valem muito, ostentam na sala de TV, ligadas em algum canal estrangeiro, para a visita ver o bom gosto. Na parede, algum quadro abstrato completa a ostentação.
ESTIAGEM
A grande seca foi ótima para as donas de casa usarem a escassez de água para o desperdício abusivo, lavando as calçadas e até o meio fio das ruas, para que a força do esguicho tenha a pressão para espalhar até folhas secas. Também o cocozinho dos cachorros que passeiam com os donos rua abaixo. Muita água também é usada para molhar as plantas, que exigem água com raridade, porque são plantas da seca. Convém não culpar apenas as mulheres das casas, os senhores também fazem a parte que lhes toca: lavar o carro, a moto, a bicicleta. Lavar a égua também, quando há!
FENÔMENO
O que acontece quando uma energia invencível colide com uma matéria indestrutível? Não acontece nada, os dois fenômenos não ocupam o mesmo lugar no mesmo espaço, ao mesmo tempo. Exemplo: um furacão se chocar com uma montanha destrói a matéria ou é desviado de rumo – jamais haverá uma colisão, sem prejuízo de um deles.
FRASE
“Quanto mais eu seu mais eu sei que nada sei” (Sócrates, filósofo grego, 400 anos antes de Cristo).