Padre Antonio Vieira foi um dos célebres escritores do Barroco brasileiro. Lá nos primórdios da nossa literatura, destacava-se com os seus sermões criticando a conduta da coroa em relação ao tratamento que ela dava aos indígenas: escravizava-os. O comportamento imoral também faz parte da sua temática. Vieira parecia denunciar os futuros problemas que a colônia naquela época teria se determinadas condutas continuassem a acontecer. Em 1655, proferiu “O Sermão do bom ladrão” na Igreja da Misericórdia de Lisboa (Conceição Velha), perante D. João IV e sua corte e ao lado de vários outros nomes importantes que faziam parte da política da época.
Num dos diálogos que ele apresenta em seu sermão, há a fala do pirata que fora repreendido por Alexandre: “Basta, senhor, que eu, porque roubo em uma barca, sou ladrão, e vós, porque roubais em uma armada, sois imperador? Assim é. O roubar pouco é culpa, o roubar muito é grandeza: o roubar com pouco poder faz os piratas, o roubar com muito, os Alexandres. ” Depois de tantos anos deste sermão, Vieira profetizou todo um comportamento do que seria a terra chamada de Brasil. Há tempos que a educação vem sangrando devido ao vários Alexandres que não se importaram em estabelecer metas políticas e financeiras para que a base de um jovem país se fortalecesse ao longo do tempo. Piratas e Alexandres fizeram do setor um verdadeiro centro de enriquecimento ilícito. É indubitável que muitos piratas sofreram severas punições enquanto os Alexandres estão espalhados por ai gozando da verba que não lhes pertence.
Na verdade – triste realidade – o comportamento pirata ficou enraizado na sociedade durante a evolução e a urbanização do provo brasileiro. É estrutural, assim como muitas outros fatores que assolam o nosso mundo contemporâneo. Cada vez que utilizamos o “jeitinho brasileiro” estamos nos comportando como um pirata. Os que nos repreendem são aqueles que furtam e ao mesmo tempo enforcam o povo brasileiro. Pequenos piratas roubam um homem; Alexandres roubam cidades e reinos; piratas furtam debaixo de seu risco; Alexandres, sem temor nem perigo. Eis a sociedade brasileira. Eis o destino da educação.
