SOMOS DONOS DO QUÊ?

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Quando Karl Marx escreveu o seu famoso livro “O capital”, que deu origem ao comunismo e às diversas correntes socialistas vigentes até hoje, certamente ele tinha uma boa intenção, a utopia de que tudo deveria ser repartido igualmente com todos. Isso não funciona e não é preciso ser nenhum filósofo ou sociólogo para saber disso. A ideia de propriedade nos é muito cara e arraigada e, para ter um exemplo bem preciso, não é necessário averiguar a vida de nenhum milionário. Pode-se simplesmente ir a uma praça pública ocupada por moradores de rua que é possível ter uma lição bem clara dessa realidade.
Um mendigo tem sempre um pedaço de papelão que usa como colchão. Com sorte, tem também um cobertor. Quando acorda, é comum enrolar os seus pertences e guardar num canto qualquer. Vá outro mendigo pegar aquele precioso pacote para ver o que acontece. Pode ser apenas um pedaço de papelão velho e encardido, mas, é propriedade dele, é seu pertence, sua fortuna, sua riqueza, sua posse. Agora amplie-se isso para quem tem casas, terras, automóveis, mansões, joias, bilhões em contas bancárias e em ações da bolsa.
O instinto de propriedade parece ser algo inato. Podemos vê-lo em crianças que brigam para defender seus brinquedos e até nos animais. Quem tem cachorro ou gato em casa sabe bem do que estou falando. Eles demarcam seus territórios e defendem com unhas e dentes – literalmente – seus pertences, seja o cobertorzinho, a vasilha, o alimento, um osso, um brinquedinho, um novelo de linha desfeito.
Não entendo porque é assim. Seria fantástico sermos desprendidos, dividir tudo, usar o necessário e compartilhar o restante. Seria perfeito se a ideia de Marx tivesse dado certo, mas, o próprio comunismo só serviu para enriquecer alguns e empobrecer a muitos. O capitalismo, que é mais claro na questão de propriedade privada, também se mostra caótico na divisão de riquezas. A única maneira de não nos apegarmos seria não possuirmos, porém, é impossível viver sem posse alguma. Nos apossamos até das pessoas: companheiros, filhos, pais, irmãos, amigos. E aí vêm os bens móveis e imóveis, os objetos, as ideias, os cargos, as posições sociais, os pontos de vista.
Jesus, que estava e continua a anos-luz de distância da nossa mediocridade, não possuía nada, não administrava nada, apesar de ser o dono do mundo e o administrador do universo. E entre os seus ensinamentos há um muito interessante, dos mais difíceis de cumprir: “Se alguém quiser tirar-te a túnica, deixa que leve também a tua capa.” (Mat 5:40). Não é fácil fazer isso. Se alguém quer nos tirar bem menos do que a túnica, estamos dispostos a brigar, a ir às últimas consequências para impedir e defender aquilo que temos como nosso. Isso quando não somos nós que queremos tirar a túnica dos outros…
Tolos que somos! O que, de fato, é nosso? Somos donos do que nesta vida? Como dizia o Raul Seixas em seu canto para a morte, “basta um escorregão idiota, a cabeça no meio fio, o câncer já espalhado e ainda escondido”, um infarto, um AVC, uma Covid 19, uma batida de carro e tudo fica, enquanto nós partimos. Chegamos sem nada e partimos absolutamente sem nada. Nem mesmo o corpo nos pertence. Depois que cessa nossa respiração, rapidamente nosso corpo esfria, enrijece, a palidez toma conta de nosso semblante e em poucas horas começamos a cheirar mal e apodrecer. E a alma, essa é etérea e não pode ter posses, não é capaz de carregar nada para onde vai, mesmo que tenha se deixado escravizar por muitas coisas durante a vida.
Não quero dizer que devemos abandonar tudo, largar mão de tudo e ir para campo aberto apreciar as estrelas, nos alimentar de raízes e só tomar banho quando chove. Precisamos das coisas para organizar as nossas vidas. É bom ter um teto para nos abrigarmos, um chuveiro com água quentinha para o banho, uma cama que acolha nosso sono, uma mesa, um fogão, uma geladeira, um veículo que nos ajude a percorrer longas distâncias, seja um carro, uma moto, uma bicicleta, um Uber, um trem, um ônibus, uma cadeira de rodas ou uma canoa. Mas, não precisamos de muito mais do que isso. Mesmo que sejamos bem pobres, no sentido exato do termo, sempre temos mais do que precisamos e do que conseguimos usar: mais roupas, mais sapatos, mais livros, mais enfeites, mais inutilidades. Numa situação de emergência, muito pouco nos basta, o mínimo nos é necessário, o que passa disso é supérfluo e vaidade.
Da posse e do desejo da posse do que não temos e nem sempre podemos ter é que vem a maioria de nossas desgraças. É daí que nascem o orgulho, a vaidade, o apego, a avareza, a usura, a inveja, a cobiça, o ódio. A maioria, senão todos os crimes cometidos pelo ser humano vêm da posse ou da frustração da posse, seja de bens materiais ou da submissão e do sentimento de outras pessoas. Quantas mulheres são assassinadas por não quererem mais ser posse de alguém que as maltrata? E quantos homens matam só porque não admitem perder, mesmo que já não amem a pessoa que julgam sua propriedade?
Muitas vezes nos damos mal, aplicamos nosso dinheiro em investimentos que nos levam à bancarrota, construímos nossa casa em terreno alheio, compramos um carro caro e o perdemos num roubo ou acidente porque não quisemos ou não pudemos investir num seguro, entramos em relacionamentos que são verdadeiras canoas furadas, minam nossas energias e nos levam ao fundo do poço, confiamos em amizades que só nos vampirizam, abrimos nosso coração e contamos nossos segredos para quem nos trai na primeira oportunidade.
Mas, enfim, ainda que sejamos filhos do dono do mundo, não somos donos de absolutamente nada. Nem a comida que comemos conseguimos reter em nosso organismo. Somos apenas usufrutuários e se fôssemos um pouquinho mais sensatos e menos egoístas, feriríamos menos, usurparíamos menos, lesaríamos menos e também menos nos deixaríamos ferir, usurpar e lesar e esse mundo poderia ser um paraíso, com o suficiente para todos, sem que ninguém precisasse querer a túnica e a capa de ninguém.

É uma pena que nos amesquinhemos tanto, muitas vezes estragando a nossa vida e a vida daqueles que nos cercam. Não sabemos como é o outro lado da vida, temos apenas suposições de como seja, mas, uma coisa eu tenho como certa: muita gente gananciosa, egoísta e fdp deve chegar do outro lado com uma cara de vergonha de fazer dó!

 

Isa Oliveira (Izilda), nasceu em Monte Alto, reside em Mogi Guacu/SP, é formada em Letras pela USP. Trabalha na Caixa Econômica Federal. É autora dos livros Elogio à loucura e O chapéu de Alberto. E-mail: isaoliveira1965@gmail.com

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