Todo mundo faz porque todo mundo faz

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Vivemos numa época de nivelamento. Assim como virou moda fazer tatuagem e vestir calças rasgadas, também se tornou um modismo dizer que o Estado é laico, que a escola é laica, e muitos declaram a si mesmos como laicos. É chique. Há pessoas que têm fortes motivações para fazer tatuagem, carregam todo um histórico prenhe de significados e isso acaba funcionando como uma marca ou a expressão de um estado interior, mas, muitos há, sem exagero, a grande maioria, que se tatua porque todo mundo se tatua, sem nem saber bem por quê. Fazem porque está na moda. Tatuam imagens e símbolos dos quais nem conhecem o significado, depois se arrependem (principalmente quando tatuam o nome do amor eterno que acaba em três semanas) e correm fazer outra tatuagem por cima. Enfim, o que era para ser sério, artístico, cultural, significativo, virou atacadão. Banalizou.
Acontece a mesma coisa com a moda destroyed (calças rasgadas) que tem bombado cada vez mais, em todas as idades e camadas sociais. Essa tendência nasceu na década de 70, adentrou um pouquinho nos anos 80 e praticamente desapareceu. No começo, não era uma tendência de moda, mas, um movimento de protesto criado pelos adeptos da cultura punk, que rasgavam as suas roupas e as usavam assim para protestar, contestar visualmente os padrões impostos pela sociedade, não se compravam roupas rasgadas. Em 2000 a tendência reapareceu, desta vez já como algo imposto pelo mercado da moda (engraçado, aqueles mesmos contra os quais se protestava usaram o objeto do protesto para ganhar dinheiro, irônico, não?).
As primeiros jeans dessa tendência que surgiram no mercado tinham uns puidinhos, uns desfiados pequenos. Como vendeu bem, aumentaram um pouquinho os rasgos, mas, ainda discretamente e logo a moda passou. Foi em 2015 que ela voltou com força total como aposta do mundo fashion e, como passou a ser usada por artistas e celebridades, virou febre. Como antigamente era feio sair com roupa amassada, descosturada ou faltando um botão, atualmente, sair com uma calça íntegra, sem nenhum rasgo é praticamente uma heresia. Creio que, se continuar assim, daqui a pouco nem se achará mais para comprar uma calça normal. E a coisa chegou a tal ponto que já não se compra mais uma calça com um ou dois rasgos, compram-se alguns rasgos com uma calça entre eles. E quem usa é exatamente quem segue a moda, quem sustenta o mercado e está enredado no consumismo; não existe mais nada de protesto nisso, aliás, há calças destroyed que custam cerca de mil reais, os ricos compram porque não pesa para eles e os pobres fazem crediário para comprar… São coisas que não dá para entender, mas, enfim, todo mundo usa porque todo mundo usa… Pensar cansa.
E aí vem a história do laico. Há ateus com suas convicções, suas filosofias e suas motivações. Respeito. Mas, tem uma porção de gente que nem tem fé e nem deixa de ter, ou tem fé quando lhe convém, sem saber ao certo o que significam as palavras laico, laicista, laicismo, mas, por ouvir falar em Estado laico, educação laica, acabam aderindo à moda e passam a se dizer laicas. O laicismo é uma doutrina que defende que a religião não deve ter influência nos assuntos de Estado. Surgida na França, à época da Revolução Francesa (1789 a 1799), serviu para delimitar as áreas de atuação de cada uma dessas instâncias e evitar abusos de poder. É claro que, assim como na moda, nessa área também houve muito exagero e esses exageros, como as bancadas temáticas religiosas no congresso, por exemplo, levam um número cada vez maior de pessoas a repudiarem a mistura de religião e política, principalmente porque usar a religião e a fé das pessoas para angariar votos, cargos e posições é algo medonho e antirreligioso. Porém, o mal do laicismo moderno é que parece ter-se criado uma aversão a tudo que se refira à fé, assim, uma pessoa que é inteligente, artista ou que exerce determinadas profissões, que tem um cargo de poder ou tem dinheiro, se disser que é cristã é o mesmo que não ter tatuagem e não usar jeans rasgado: provoca estranheza e é deixado meio de lado. Ora, o Estado deve, sim, ser laico, as pessoas que o compõem, não. E o Estado somos todos nós.
Mas, enfim, dentro desses modismos todos, acaba havendo muitas lutas territoriais, com grupos diferentes defendendo seus atos, suas tatoos ou seus panos rasgados, só que defendem posições e ideias que não são suas e que nem conhecem de fato. E os que os atacam ou repudiam também nem sempre conhecem, atacam por atacar. Eu não gosto de tatuagem no meu corpo, por isso não as faço, mas respeito quem tem e até admiro algumas, muito bonitas e significativas. Eu não gosto de roupa rasgada, e não sou obrigada a usá-la, porque faço as minhas escolhas; acho feio e não escondo isso, mas, cada um usa o que quer e eu não fico atacando quem usa. Da mesma forma, o centro da minha vida é Deus mas não tento converter ateus e nem entro em disputas estéreis no campo da fé, mas, sinceramente, não tenho paciência com adeptos do diet, light, laico.
Como ser humano, sei que devemos ser tolerantes e pacientes, como futura psicóloga, sei que precisarei me tornar expert em acolhimento, mas, de verdade, exatamente por ser humana, me irrito muito com tudo que é modismo e superficialidade e, se pudesse deixar uma contribuição para o mundo, gostaria de ajudar as pessoas a pensar e a decidir baseadas naquilo que conhecem pelo menos a origem e o significado. Acho triste essa nossa vida de gado, quando abrimos mão de nosso maior tesouro, o poder de escolha, para simplesmente fazer, usar e falar o que todo mundo faz, usa e fala. Num mundo de iguais, nossa maior riqueza é a singularidade, por que, em 7,5 bilhões de pessoas somos únicos. Não entendo por que nos esforçamos tanto para parecer iguais, às vezes, ridiculamente iguais.

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