Uma trama muito delicada

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Uma das lições mais importantes da vida é a conexão existente entre as pessoas. Como numa peça de crochê, tricô ou num bordado, a delicada trama se faz ponto a ponto, sendo que cada ponto está ligado ao que está de um lado, do outro, acima, abaixo, na frente, atrás, numa rede interligada e interdependente. Um ponto sozinho nada significa, mas, conectado com os outros, cumpre o seu papel e reforça a composição geral da peça. Em outras palavras, um ponto (um ser humano) sozinho não tem muito significado e praticamente nenhuma importância, mas, intercalado a outros pontos, contribui para a dinâmica da vida.

Recentemente, precisei tomar uma decisão muito difícil, uma das mais difíceis que já tomei na vida. Todos vocês que me leem sabem que eu sou “cachorreira”, pois comento isso por aqui com certa frequência, e faço questão de dizer o quanto devo a minha vida a alguns cachorros dos quais precisei cuidar quando tive depressão e, graças a eles, encontrei o caminho da cura. Isso foi há muito tempo, cerca de 20 anos, e a última representante desse time de anjos que Deus destinou para cuidar de mim, Maria das Dores, partiu desta vida, perto de completar 17 anos.

Infelizmente, a partida dela teve de ser decidida por mim, por isso, minha alma ainda está muito machucada. Há alguns meses a Dores, como carinhosamente a chamamos, começou a apresentar dificuldades para andar, caindo com muita facilidade. Passou a ficar cada vez mais tempo deitada, o que acabou provocando uma escara de decúbito na cabeça do fêmur. Essa escara acabou evoluindo para um tumor, que supurou.

Como ela já estava bem idosa, a cicatrização estava lenta e os antibióticos e anti-inflamatórios que ela precisou tomar acabaram por debilitar ainda mais o seu organismo. O processo de cicatrização da ferida estava andando bem, dentro do esperado para a idade e condições físicas dela, mas, para nossa surpresa, de um dia para outro, a infecção começou a se alastrar para a pele do interior da coxa e da barriga e foi destruindo esse tecido mole, apodrecendo uma área muito grande.

Tudo aconteceu muito depressa e, mesmo com a retomada dos antibióticos e o uso de pomadas e cicatrizantes potentes, a infecção não retrocedeu, ao contrário, aumentou a cada dia. O sofrimento dela era desesperador, não havia posição que ela conseguisse ficar. Os seus rins pararam de funcionar e ela passou a rejeitar a dieta líquida e até a água que lhe dávamos com o auxílio de uma seringa.

Eu pedi muito a ajuda de Deus, para ela sarar ou para partir sem muito sofrimento, mas ao ouvir os gemidos dela praticamente o dia todo, pela primeira vez pensei na hipótese de eutanásia, uma prática à qual sempre fui contrária, por acreditar que a vida a Deus pertence. O que eu queria mesmo era um milagre. Que a enorme ferida começasse a secar ou que ela dormisse e não acordasse mais. Porém, não foi assim o agir de Deus. Ele deixou a decisão nas minhas mãos. Quem não tem animais de estimação ou tem, mas nunca passou por isso, pode não compreender o que estou dizendo, mas, quem já enfrentou situação semelhante sabe o quanto é difícil e doloroso.

Como eu acordo bem cedo, antes mesmo de falar com o meu marido, eu li a mensagem de uma amiga do Rio de Janeiro, me falando sobre o assunto e contando que precisou sacrificar dois cachorros e que, apesar da dor, o alívio de libertar os bichinhos queridos do sofrimento não tem preço.

Depois da conversa com ela, falei com o meu marido, que confessou ter pensado a mesma coisa. Conversamos com a veterinária para saber o valor, que foi bastante salgado, sobretudo, considerando que já tivéramos um grande gasto com consulta, exames e remédios. Não tínhamos como pagar.

Falei de novo com Deus e sobre como me parecia mais fácil se Ele mesmo cuidasse do assunto para mim. No entanto, a ação de Deus se dá num outro nível e, se assim não fosse, se Ele simplesmente interferisse de maneira direta em todos os nossos assuntos, estaria tirando de nós o que nos deu de mais precioso, o livre-arbítrio, a capacidade de decidir e de agir de acordo com nossos próprios valores.

Nesse ínterim, vendo a pobrezinha piorar de minuto a minuto, recebi outra mensagem da amiga do Rio, e ela me sugeriu que procurasse o Centro de Controle de Zoonoses da Prefeitura. Ela ainda disse: “Não custa tentar; o não, você já tem…”. Fiz isso, e fui muito bem tratada. As coisas se resolveram com muita rapidez e, às 13h30, eu deixava minha queridinha numa sala do CCZ, enrolada em seu cobertorzinho. Não a vi partir, não acompanhei o procedimento e a última imagem que guardo é a de seus olhinhos embaçados de quem já não vê nada ou não se importa com o que vê, pois tudo o que deseja é parar de sentir dor.

Embora senhor da vida e da morte, Deus me deu a oportunidade de libertar a companheira de tantos anos e de tantas aventuras. Ela viveu muito bem a sua vida, cumpriu muito bem o seu papel e recebeu de nós todo amor e cuidado que mereceu. Saí do CCZ triste, e continuei triste por muitos dias, porém, com o coração aliviado. Eu não a vi morrer, portanto, ela jamais morrerá para mim, diferente de sua mãe, seu pai, sua tia e os seus irmãos, que morreram todos no meu colo. Ela estará viva eternamente.

E, nesta rede em que pontos se ligam a outros pontos, na delicada e indestrutível trama de solidariedade, uma pessoa que nem conheço pessoalmente, uma amiga virtual, que vive muitas centenas de quilômetros distante, me ajudou a tomar essa difícil decisão e a procurar ajuda num local onde outros pontos dessa tecitura acolheram com carinho e respeito a mim e à minha peludinha, e não me cobraram nada por isso.

Eu só posso agradecer imensamente a esse Deus maravilhoso, autor dessa trama perfeita, pois Ele também acolheu com muito carinho e respeito a minha dor e a dor da minha cachorrinha, juntamente com a amiga que Ele usou para me sustentar neste momento difícil; e o meu amado marido, que há oito anos me recebeu tão bem nesta cidade querida, e aceitou os cachorros que eu trouxe, tornando-os parte da sua vida. Agora, a última deles partiu, mas, todo o amor e alegria que vivemos juntos com cada um deles, nada jamais tirará de nossos corações. Obrigada, Maria das Dores, por você ter me amado tanto e me permitido amar você. Um dia, quem sabe, a gente se encontra de novo, num imenso túnel de luz no qual você agora caminha, junto com todos os outros cachorrinhos amados que fizeram da minha vida algo tão especial.

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