Por G1
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2025/I/v/Sf34tCTKWbZb6ArAMBxA/design-sem-nome-6-.png)
Na segunda-feira (6), o Instituto Adolfo Lutz confirmou que os macacos encontrados mortos em uma área de mata no campus da Universidade de São Paulo (USP) em Ribeirão Preto (SP) estavam infectados pelo vírus da febre amarela.
Três dias antes, na sexta-feira (3), a Secretaria Municipal de Saúde já tinha traçado um plano de ação e passou a vacinar as pessoas que moram em até um raio de 300 metros da universidade, que fica na região Oeste.
Isso porque, antes mesmo do laudo que atestou a causa das mortes como sendo febre amarela, o Laboratório de Virologia da USP já tinha feito análise das vísceras dos animais e chegado à conclusão que eles estavam infectados. Só que, ainda assim, era necessária a comprovação do Adolfo Lutz.
Apesar da confirmação, especialistas ouvidos pela reportagem destacam que não há motivo para pânico.
Não só a área onde os corpos dos animais foram encontrados está isolada, como também Ribeirão Preto deve receber 100 mil doses de vacina ainda nesta semana.
Nesta reportagem, você vai entender o que é a doença, como ela é transmitida, quem precisa se vacinar e por que os macacos não devem ser considerados vilões.
O que é a febre amarela?
A febre amarela é uma doença não contagiosa transmitida por, pelo menos, três tipos de mosquito:
- Na área silvestre, Haemagogus e Sabethes são os dois transmissores da doença e eles têm os primatas como principais hospedeiros, ou seja, infectam os macacos por meio da picada.
- Na área urbana, o mosquito transmissor é o Aedes aegypti, o mesmo que também causa doenças como dengue, zika e chikungunya. A febre amarela também é transmitida pela picada do inseto com o vírus.
No Brasil, os últimos casos de febre amarela na área urbana foram registrados em 1942. Ocorrências confirmadas a partir desta data são decorrentes do ciclo silvestre de transmissão, ou seja, causadas pelos mosquitos Haemagogus e Sabethes.
De acordo com o Ministério da Saúde, ela é uma doença infecciosa febril aguda, de evolução rápida e gravidade variável, mas que pode ser evitada por meio da vacina.
A doença é bem parecida com a dengue e provoca dor de cabeça, febre, dor no corpo e dor atrás do olhos, mas é muito mais letal, segundo o infectologista da USP, Fernando Belíssimo Rodrigues.
“A febre amarela não requer uma hidratação abundante como a dengue. Por outro lado, não existe um tratamento específico, não tem um antiviral que se possa usar e a febre amarela é muito mais grave do que a dengue. A letalidade na dengue é inferior a 0,1%. Na febre amarela, é da ordem de um terço, de 30% [dos casos]”.
Nas formas graves da doença, ainda existe uma manifestação clínica chamada de icterícia, que a pele e os olhos ficam amarelados, diz Belíssimo.
“É porque a doença pode afetar o fígado e aí então acontece esse amarelamento. Mas nem todos os casos de febre amarela a pessoa fica amarela, só nos casos mais graves”.
Toda vez que surgem casos suspeitos de febre amarela, é preciso avisar as autoridades competentes em um prazo de 24 horas, para que medidas de urgência sejam tomadas para evitar o contágio.
Macacos transmitem a doença?
Não. Macacos não transmitem a doença e esta informação está completamente errada. Assim como os humanos, estes animais são hospedeiros da febre amarela, que é causada pela picada de mosquitos.
Em 2017, quando Ribeirão Preto teve duas mortes confirmadas por conta da febre amarela, a população passou a agredir e matar macacos encontrados na área urbana mas a verdade é que eles funcionam como uma espécie de ‘controle’, como explica Benedito Lopes da Fonseca, também infectologista da USP.
Secretário de Saúde de Ribeirão Preto, Maurício Godinho ressalta que os macacos servem como sentinelas, ou seja, são vigias que acabam por prevenir ‘invasões’.
“Nós não devemos fazer controle aos macacos, não devemos fazer nenhuma ação contra o macaco. O macaco [morto na USP] simplesmente nos ajudou e serviu como sentinela para identificar que a doença estava existindo.”
Qualquer primata pode contrair a doença, mas os bugios são mais suscetíveis por serem mais lentos que as demais espécies, ainda segundo Belíssimo.
“O bugio é especialmente suscetível, porque é um macaco lento, isso facilita o mosquito a sentar nele e picar. Os saguis, como são muito inquietos, são um alvo menos importante, mas também podem adoecer e morrer de febre amarela”.
Quem deve ser vacinado?
Qualquer pessoa a partir de nove meses deve se vacinar contra a febre amarela. Em Ribeirão Preto, pessoas que moram em um raio de 300 metros da USP e ainda não se vacinaram, devem procurar os postos de saúde.
“A vacinação, com certeza, é a forma mais efetiva. Essa vacina é, possivelmente, a mais efetiva que existe entre todas as vacinas [de outras doenças]. A OMS fez uma avaliação alguns anos atrás de 600 milhões de doses aplicadas, foram documentados apenas 12 falhas vacinais. A efetividade da vacina, praticamente, é 100%”, aponta Belíssimo.
Apesar de eficaz e indicada para toda a população, algumas pessoas devem evitar a imunização, por se tratar de uma dose com vírus atenuado (que está vivo).
Segundo o Ministério da Saúde, não podem ser vacinadas:
- Crianças menores de 9 meses de idade
- Mulheres amamentando crianças menores de 6 meses de idade
- Pessoas com alergia grave ao ovo
- Pessoas que vivem com HIV e que tem contagem de células CD4 menor que 350
- Pessoas em de tratamento com quimioterapia/ radioterapia
- Pessoas portadoras de doenças autoimunes
- Pessoas submetidas a tratamento com imunossupressores (que diminuem a defesa do corpo)
Belíssimo diz que, nestes casos, é necessário que a pessoa converse com o médico.
“É uma avaliação de risco benefício. O que a gente fala para essas pessoas é procurar o seu médico ou procurar um posto de saúde e dizer sua condição e aí a gente analisa caso a caso. Se o risco for muito alto de febre amarela, às vezes, a gente acaba até vacinando nessas condições. Mas, geralmente, se evita”.
Quem já foi vacinado, precisa de dose de reforço?
Desde 2017, por determinação do Ministério da Saúde, não é mais necessário tomar uma segunda dose da vacina contra a febre amarela estando em território brasileiro. A medida está de acordo com as recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS).