As buscas do Google subiram muito com o termo Workaholic, principalmente durante o período de pandemia, em que muitas pessoas não seguiam mais o horário comercial e estendiam suas horas de trabalho de forma excessiva.
Os workaholics são trabalhadores compulsivos ou viciados em trabalho. O termo tem origem nos EUA e hoje é muito utilizado no Brasil. O problema, entretanto, não é o trabalho em si, mas as consequências que afetam esses trabalhadores e profissionais. Existem pessoas que não sentem mais prazer em estar com seus filhos, familiares, amigos, parceiros ou estão preocupadas a todo momento com assuntos relacionados ao trabalho, mesmo em momentos de descanso.
Os trabalhadores compulsivos são geralmente pessoas competitivas no mercado, ambiciosas e que muitas vezes precisam provar para si mesmas e para os outros que são capazes de realizar algo e terem sucesso. Essas pessoas têm a carreira profissional como prioridade máxima, e muitas vezes abdicam de construções de outros contextos, como uma família, filhos ou até mesmo a dedicação de tempo para outras atividades, como um hobby.
Para a especialista Rebeca Toyama, especialista em estratégia de carreira, nesta realidade, os profissionais se entregam ao trabalho a ponto de se esquecerem da vida após o expediente. Muitos fazem isso e não se dão conta do quão é ofensivo para a vida social e pode até impactar no sono. “Os profissionais ficam tão imersos no trabalho que tem pouco tempo para investir nas outras áreas da vida, resultando em mais conflitos conjugais podendo até desencadear depressão, estresse, insatisfação com o trabalho e outros problemas de saúde”, alerta Rebeca.
A busca por uma carreira e vida financeira estável é apenas um dos aspectos, mas em geral não é o que desencadeia o transtorno, pois inconscientemente a maioria dos workaholics precisa se sentir produtivo para que tenha algum valor, portanto, quanto mais trabalhar, mais valor sentirá que tem.
Ainda, de acordo com a especialista, existem algumas ações que podem ser tomadas por parte dos gestores das empresas, principalmente aproveitando o momento da pandemia, já que o índice de depressão e ansiedade também aumentaram nesse período.
“Algumas ações que devem ser tomadas estão relacionadas ao bem-estar dos colaboradores. Buscar entender o que está acontecendo, ter um profissional de saúde mental para um possível acompanhamento, mostrar ao colaborador o interesse em ajudar caso surjam dificuldades durante alguma tarefa, associar uma boa qualidade de vida para a entrega de bons (e até melhores) resultados e a promoção de ações junto à equipe para apoio emocional e psicológico, por exemplo, são eficazes para lidar com esse excesso de trabalho e exaustão física e emocional”, contou a especialista.
A psicóloga Simone Lavorato explica que a insônia é um transtorno que está diretamente relacionado com a ansiedade, e que no contexto do excesso de trabalho, tem uma tendência a aumentar. Ela recomenda um bom preparo físico e mental antes de dormir, com a desconexão de aparelhos eletrônicos e pequenos rituais, como um bom banho relaxante, além de cuidados, como cortar a ingestão de bebidas com ativos energéticos, como o café.
“Se eu não tenho uma boa noite de sono, meu organismo não vai conseguir se restaurar para o próximo dia. E é isso que está acontecendo: as pessoas já acordam cansadas”, afirma ela. Outra pesquisa feita pela empresa de inovação corporativa The Bakery, revelou que quase a metade dos brasileiros, cerca de 44%, está com mais dificuldades para dormir por causa das mudanças de rotina provocadas pela pandemia.
Além disso, 47% buscam soluções para melhorar a qualidade do sono, entre elas meditação, exercícios físicos, boa alimentação, medicamentos e tecnologias de aplicativos, nessa ordem. O estudo entrevistou 780 pessoas em todo o país, entre 27 de maio e 3 de junho do ano passado, quando grande parte das pessoas estava em quarentena havia mais de 60 dias.
A preocupação com o fenômeno é relevante por conta dos dados preocupantes, conforme foram citados acima. É importante ressaltar que uma vida saudável e equilibrada traz mais resultados e produtividade do que o excesso e que aceitar os limites do corpo e da mente também é um passo importante de autoconhecimento. Autoavaliar-se deve ser uma das respostas para que as pessoas identifiquem os seus limites e tenham cuidados maiores consigo mesmas.