Diários de Bicicleta

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Semanas 12 e 13

 

 

SEMANAS  12 E 13 : 3000KM, ADIOS BRASIL….

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Alô, alô, Planeta Terra chamando. Essa é mais uma edição do diário de bordo de um maluco pelo planeta terra, escrevendo diretamente de um país chamado Uruguay, onde tudo pode acontecer . Se no Brasil estava tudo muito intenso, imagine agora. Estou controlando a emoção pra me manter no chão, por que a vontade que tenho é de sair voando. As pessoas boas continuam aparecendo, as paisagens cada dia mais lindas e o coração cada vez mais gordo e cheio de gente guardada dentro dele.

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A sensação de cruzar a fronteira foi muito maluca. Fiquei um pouco extasiado, sem reação, meio bobo. Achei que eu fosse chorar e uivar como sempre, mas não, entrei no Uruguay quieto, com o coração batendo bem devagar e os pensamentos lá longe. Os pensamentos se voltaram para a imensidão do que estou vivendo, como se eu estivesse digerindo as informações, organizando tudo, colocando as lembranças do Brasil num quadro bem grande,  que vai ficar pendurado em algum lugar que eu possa olhar seja lá onde eu estiver, pra sempre, sem perder nem um pouco das emoções que vivi, sem esquecer de cada segundo, de cada olhar, de cada piada. Nada, se Deus quiser, eu não vou esquecer de absolutamente nada do que vivi no Brasil, nesses exatos 3 meses de acontecimentos e encontros surreais.

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Os últimos dias de Brasil foram de pedaladas e orações bem longas. Em Mostardas eu dei um dia de descanso pra Princesa e fui visitar duas amigas em Santo Antônio da Patrulha, a Clarissa e a Bianca. Fiz um bate-volta de ônibus até lá, onde fui muito bem recebido na casa da família da Clarissa, com direito a almoço de Vó, a Vó Ivone. Fiquei lá uma noite e voltei para os braços da Princesa, que estava me esperando na casa do Gilvan. Voltei animado, com as energias recarregadas, pronto para um dia que seria longo. Estava disposto a pedalar 160km, até chegar em Rio Grande, e depois mais 20km até a praia do Cassino. Acordei as 5 da manhã, disposto, botei uma música pra tocar, dancei enquanto escovava os dentes, de cueca, pensei na vida, em Deus, na família, nos amigos, coloquei minha “casa” em cima da Princesa, me alonguei e parti. Sai todo animado, ciente de que eu passaria o dia inteirinho fazendo um único e repetitivo movimento circular com as pernas.

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Com a cabeça no lugar e a pressa no lixo, segui cantando, mugindo pras vacas, berrando pra ovelhas,  abanando os braços pra algumas buzinas, pra alguns peões, troquei aquela boa ideia com  o Paizão, lembrei que eu nunca estou sozinho, mesmo naquela estrada plana e deserta.  Basta eu lembrar de você, que está lendo esse texto e a solidão sai correndo. Pedalei  5km e “PUF”, ta lá mais um pneu estendido no chão. Fingi que nada estava acontecendo, arrumei e continuei. Pedalei 50% do que eu estava planejando, 80km muito bem feitos, estava zero-bala, tinha certeza de que iria encarar a outra metade numa boa, mas como se fosse uma piada, senti que a Princesa não estava mais andando em linha reta, olhei pra roda traseira, e pronto, mais 4 raios estourados. Agora o buraco é mais em baixo, não tenho ferramenta nem conhecimento sobre raios. A minha “sorte” é que eu estava muito próximo a única vila que havia nesses 160km, Bojurú. Parei pra perguntar pro Jomiro se havia alguma bicicletaria na vila, mas a resposta foi negativa. Ele me falou que havia só um rapaz que poderia me ajudar, mas que a casa dele ficava a 5km para trás. Eu teria que voltar com a Princesa toda torta, não daria muito certo. Mas, de repente, ele parou de falar comigo e começou a gritar para uma caminhonete que estava do outro lado da pista. Era ele, o Anderson, o único entendido de bicicletas da vila. Pronto, coloquei a princesa na carroceria da caminhonete e fomos pra casa dele. Sem sucesso, as ferramentas que ele tinha não eram suficientes. A saída foi pegar um ônibus até São José do Norte e de lá pegar a balsa até Rio Grande, onde cheguei e fui direito pra uma bicicletaria.

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Saí de lá agradecido e disse que não gostaria de voltar ali nunca mais. Segui por mais 20km até chegar no Cassino, a maior praia do mundo. Essa praia tem mais de 200km de extensão. Ela sai da cidade de Rio Grande e vai até o Uruguay. Cheguei e fui atrás da casa do Vinicius e do Jonas, dois novos amigos, que são amigos da irmã de uma amiga, que estudou comigo lá em Maringá. Essa “terceirização de amizade” é sensacional. É lindo ver a união das pessoas a fim de ajudar o amigo do primo do filho do tio. É um tal de apresentar amigo que mora ali, que conhece o outro que estuda lá, que vai me receber daqui 3 meses não sei onde. E como é bom ser a bola desse jogo, que fica indo pra lá e pra cá.

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Cheguei na casa deles e já fui muito bem recebido com uma festa de aniversário do professor, churrasqueira e freezer lotados, que coisa boa. Passei o final de semana ali com eles, dei muita risada, os caras são figuras demais. Percebi uma diferença muito grande nas relações entre as pessoas do Rio Grande do Sul. Percebi uma simplicidade muito legal. As piadas não tem muita arrogância, ego, preconceito. Todo mundo é amigo, é igual, não sei, mas acho que o estereótipo da pessoa não é levado em consideração na hora de fazer amizade. Vejo que as turmas são formadas por gente de todos os tipos, que falam sobre qualquer tipo de assunto e estão totalmente abertas pra qualquer um que quiser entrar. Posso estar enganado, é claro, mas essa foi a minha experiência naquele estado que me deixou tantas lembranças boas.

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Dia 26, segunda feira, as 8 da manhã, me despedi e parti, estava super animado com a última reta que me levaria para a cidade mais ao sul do Brasil, aquela tão conhecida e desconhecida, Chuí. Pedalei coisa de 10km e pra variar, o que aconteceu? Comecei a chorar. Caramba, juro que não quero ser dramático com essa minha choradeira, mas eu tenho que contar, faz parte do roteiro, da viagem, e eu não quero só dar informações turísticas pra vocês, eu quero expressar exatamente o que sinto. Bom, de qualquer modo, no meio daquela soluçada e com o rosto todo molhado, com a cabeça em outro planeta, vejo um carro parando no acostamento. Desce dele uma moça muito bonita e abana as mãos pedindo pra eu parar. Parei e ela disse: “Você é o Beto? Eu sou a Geisa, amiga da Simone”. Vou explicar: Antes de chegar em Rio Grande, a Simone, uma outra amiga de Maringá, me passou o facebook da Geisa, que entrou em contato comigo e me ofereceu abrigo. Nessa altura eu já estava com tudo combinado com os outros meninos, então, agradeci muito e disse que não iria precisar.

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Depois dela, desceram do carro mais dois homens, o Luis e o Wilson. “Caramba, não acredito que é você”, respondi. E completei, enxugando o rosto: “Vocês me pegaram num momento diferente, tô parecendo uma criança aqui chorando, mas fiquem tranquilos por que é de alegria”. E ai caímos num papo muito bacana, e até um pouco profundo, sobre a introspecção, a evolução, o choro, a emoção, o auto-conhecimento. Não fiquei nem um pouco envergonhado por  estar chorando, achei que aquilo foi mais um sinal do Paizão, mostrando que devemos chorar mesmo, sem vergonha, mesmo que as pessoas vejam, por que é nessa hora, de emoção e sentimentos a flor da pele, que aparecem as pessoas certas pra falar o que a gente precisa ouvir.

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Tiramos uma foto e nos despedimos. Pedalei mais 5 minutos, e “PUF”, tá lá mais um pneu estendido no chão. Dei uma risada irônica, parei e arrumei. Quando estava tudo pronto, olhei pros raios e quase cai pra trás, achei que fosse alguma alucinação, mas não era, realmente meios raios estavam estourados novamente. Lembrei na hora do que eu disse pros caras da bicicletaria de Rio Grande, de que eu nunca mais queria vê-los, mas infelizmente isso não foi possível. Com 3 raios estourados e a Princesa rebolando mais que a Carla Perez, eu voltei ao centro de Rio Grande. Cheguei na bicicletaria com cara de cachorro sem dono e pedi pelo amor de Deus, para que eles me ajudassem com aquela roda. Liguei para um amigo chamado Antônio Olinto, um dos cicloturistas mais experientes do nosso país, que deu a volta ao mundo em mil novecentos e noventa e pouco e hoje sua vida gira em torno disso. Expliquei a situação e ele me falou sobre o melhor raio a ser colocado. Deixei a Princesa internada e aproveitei pra ir almoçar no bandeijão da universidade, com a Lais, a irmã da Bruna, de Maringá, aquela que me descolou a casa dos meninos pra eu ficar. Passei mais uma noite no Cassino e finalmente consegui partir no dia seguinte. Agora, finalmente eu  conseguiria sair do Brasil.

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E lá vamos nós, eu, My Princess and The Big Father, novamente juntos e com um objetivo muito grande, que seria pedalar 240km em 2 dias, rumo ao estrangeiro. A estrada que liga Rio Grande ao Chuí não tem absolutamente nada, é um retão só, deserto e monótono. Os ventos que fazem aqui também foram novidade pra mim. Ridiculamente fortes e perfeitamente encaixados no meu peito, foi assim que fui apresentado a um dos lugares que mais venta no Brasil. Ao invés de me estressar, fiquei todo metido, como se aquilo fosse uma força do meu país, pedindo pra que eu não fosse embora.  Prepotências e piadinhas a parte, consegui pedalar até chegar à Reserva do Tain, onde me liberaram pra passar a noite, com direito a banheiro limpinho, cama e cozinha. O problema é que ainda faltavam 160km pra chegar no Chuí, e com aquele vento seria impossível. Acordei as 4h45m, tomei um café rápido e apareci na estrada antes do sol. De manhã venta menos, então eu quis aproveitar pra esticar a viagem. Pedalei  5km e parei, mas dessa vez não foi por problemas com a roda, mas por que ganhei um presentão da natureza. Tudo plano, estrada vazia, do lado esquerdo, um riozinho e um sol monstruoso nascendo com calma. Do lado direito, outro riozinho e uma lua cheia e gorda. Na parte de cima, infinitos pássaros gritando bom dia, cada espécie com o seu sotaque, mas todos gritavam. No meio, um maluco, andando de bicicleta, uivando, como se tudo aquilo tivesse sido preparado pra esse maluco ficar mais maluco ainda, como se fosse uma peça de teatro, uma peça dirigida por um cara, um cara muito foda, que eu nem preciso dizer o nome.

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Aquela peça atrasou toda a minha viagem, deixei a princesa no acostamento e fiquei coisa de uma hora parado, que nem um louco tirando foto, e pra fazer boa-foto vale tudo. E deita no  asfalto, no mato, e corre de um lado pro outro da pista, tudo pra pegar o melhor ângulo, do pássaro que deveria ficar exatamente ali, entre a lua e a árvore, e o sol que deveria ficar perfeitamente encaixado naquela faixa de água, e por ai vai. Em alguns momentos eu queria que os pássaros voassem mais alto, pra foto ficar mais linda, mas ele não voavam, voavam baixo, então eu dei uma dura neles: “Como vocês são burros, por que voar tão baixo? Seus burros… Deus dá asas pra quem não sabe voar mesmo”. Mas eles não me ouviam.

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Voltei a realidade, lembrei que se eu não acelerasse eu teria que dormir no meio da estrada, então, com muita dor no coração eu fui me despedindo aos poucos da lua que ia embora e do sol que já não era mais um espetáculo, mas sim uma máquina de fritar a nuca. Passei o dia inteirinho na estrada, das 6 da manhã as 6 da tarde, quando finalmente coloquei os pés no lugar que eu tanto esperava. Consegui, depois de 165km, chegar ao Chuí e me deparar com uma placa que dizia “Fronteira, Brasil – Uruguai”. E foi ali que eu senti uma das maiores emoções da viagem, ali eu me despedi desse país  que vai me deixar com tanta saudade nos próximos 18 meses.  Passei 2 noites no Chuí, organizando tudo, ligando pros amigos, enviando por correio todas as fotos e vídeos que eu fiz nesses primeiros 3 meses de viagem, descansei bastante e parti. Finalmente eu estava em território estrangeiro, e como eu havia dito, no momento em que entrei no Uruguay, o sentimento foi diferente do que eu esperava. Fiquei calmo e sereno, e não eufórico como eu imaginei que fosse ficar. Segui tranquilo, parei no forte de Santa Teresa, tirei umas fotos e segui até Punta del Diablo. Ali eu fiquei 2 noites, num hostel, cheio de gente boa, música boa e teias de aranha pelas paredes do quarto. Conheci gente de vários lugares, muitos viajantes, entre eles, 6 chilenos que estão viajando de bicicleta pela costa do Uruguay.

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Me despedi no domingo e segui para Cabo Polônio, o lugar mais incrível de toda a viagem até agora. Um povoado muito pequeno, no litoral, onde só se chega de 4×4, sem energia elétrica, cheio de gente do mundo inteiro, com as casinhas todas de madeira, espalhadas sem nenhuma ordem, sem nenhuma geometria, cada uma pode ficar onde quiser, no meio das dunas e da grama. Tudo muito simples, adaptado do jeito que dá, cheio de cores nas construções, muito astral e sorriso no rosto de todos que estão ali, como se ali não existisse hora nem dia da semana, uma coisa incrível. No hostel que eu fiquei, gente da Alemanha, Noruega, Holanda, França, Argentina, Chile, todos se comunicando numa mistureba de línguas que me deixou com o cérebro todo cheio de nós. Eu sinceramente fique um pouco perdido. Tô sofrendo um pouco por que não consigo fazer piadinhas ainda. Quero ficar falando besteira, mas ainda está difícil. Por enquanto só consigo falar o necessário, e é chato falar só o necessário, mas tudo bem, logo eu aprendo a ser um latino besta! Como dizia Raulzito: “Agora eu sou apenas um latino americano que não tem cheiro nem sabor”.

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Mais duas noites em Cabo Polônio, na companhia de leões marinhos, finais de tarde inesquecíveis e agora estou num lugar chamado La Paloma, uma outra praia, mais moderna mas com muito encanto também. Estou num hostel com os amigos chilenos. Sim, hoje eu os encontrei  novamente na estrada e seguimos vigem juntos. Além dessa boa companhia, já consegui lugar de sobra pra ficar em Santiago do Chile, onde eu ainda não tinha nenhum contato.

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A notícia mais fresquinha vem agora: Sei que daqui um ou dois dias vou passar por Punta Del Este, um lugar muito caro. Estava um pouco preocupado com isso, por que além de caro, é difícil arrumar lugar pra ficar de graça em locais muito turísticos. Tudo bem, esperei pra ver alguma coisa acontecer, e veja só: Há alguns dias, uma mulher chamada Luciana Pasqual, de Porto Alegre, me adicionou no facebook. Eu não conheço ela, nunca a vi, mas ela viu o projeto e passou a me acompanhar. Me deu algumas dicas a respeito do Uruguay, disse que conhece tudo por aqui. Hoje, numa conversa com ela sobre Punta Del Este, mais um grande presente: Ela me ofereceu o apartamento dela e da família dela, que fica no centro da cidade. O apartamento está vazio, ela nem me conhece, nunca me viu, mal sabe ela que eu sou um cleptomaníaco, bagunceiro e mesmo assim me liberou a sua casa. Que coisa né? (Calma Lu, to brincando, vou deixar tudo no lugar)….

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E assim as coisas vão caminhando, alguns encontros do destino, outros encontros feitos pela “Terceirização de amizade”, tudo o que me deixa tranquilo, certo de que o mundo é recheado de gente boa, a fim de ajudar, de fazer acontecer.

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Agora eu vou dormir, são quase 5 da manhã e eu estou escrevendo isso aqui desde as 23h… os chilenos não param de roncar, mas eu estou tão cansado que isso não vai ser problema. Amanhã quero  muito chegar a Punta del Este. Se os ventos continuarem do jeito que estão, vai ser bem difícil, além de que os próximos 60km serão de estrada de terra, mas assim que eu chegar eu mando notícias.

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Gente, mais uma vez, um prazer imenso tê-los aqui comigo, compartilhando tanta coisa, tanto sentimento.

Compartilhem isso, ajudem a divulgar esse projeto que não é só uma viagem, mas a busca por um mundo melhor, mais otimista, mais alegre, uma união de um moleque que saiu de bicicleta pelo mundo e de uma marca disposta a patrocinar esse sonho. VESTÍGIO, a responsável por tudo isso, por muita coisa, essa viagem esta sendo responsável por muitas mudanças, pelo menos as que eu sinto dentro de mim. Obrigado por essa oportunidade maravilhosa…

Espero que fiquem bem, e acordem bem todos os dias, isso é importante!
E fiquem com o Cara, o diretor das peças de teatro!

Um beijo,

Beto Ambrosio!

 

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