Diários de Bicicleta

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Semanas 9 e 10

 

 

 

Semanas 09 e 10:

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Os perrengues da serra, chuva, frio e sujeira, cessaram e deram lugar pra dias mais calmos , confortáveis e cheios de encontros com pessoas boas.  Mais uma vez pude rever grandes amigos, viver o dia-a-dia deles, saber como anda a rotina de cada um, o que me deixa muito feliz, pois muitos dos nossos amigos vão pra longe, de vez em quando mandam alguma noticia, mas muito superficiais pra gente saber como a pessoa realmente tem vivido. Além dos velhos amigos, fiz também amigos velhinhos. Dona Aurora, 68 anos, um dos encontros mais encantadores de toda a viagem, eu digo de “toda a viagem”, pois, sem dúvida vai ser difícil encontrar alguém como ela, vocês vão entender o porque.

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Depois de Canela, seguimos até São Leopoldo, onde encontramos o Rodolfo Smirne e sua namorada Lizandra. O Rodolfo é um antigo amigo que nos recebeu que nem “Reis”, assim como ele é chamado por mim: REI. Foram dois dias muito gostosos, com direito a máquina de lavar, comida boa, churrasco gaúcho e até piscina. O Rodolfo está trabalhando muito, até as 22h, 23h, e por isso não pudemos passar as tardes juntos, o que não foi problema, já que ele chegava em casa cheio de energia pra brindar uma cerveja. Sem falar na Lizandra, que durante o dia fez de tudo pra deixar a gente a vontade. Muito obrigado pela atenção meus queridos, foram poucas horas, porém, muito valiosas. Lizandra, agradeça também a sua mãe, Rose, pela piscina, pelo churrasco e pelas boas conversas sobre “Motor Home”.

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Dali seguimos pra Porto Alegre, onde mais uma vez encontramos um querido parceiro, o Bruno Góes. A viagem até lá foi bem rápida. Saímos de São Leopoldo as 21h pra evitar o sol insuportável que faz aqui na região e chegamos na casa do Bruno as 22h30. Foram 37km em 1h30, um absurdo de rendimento. Pedalamos no apetite, um atrás do outro, um puxando o outro, numa estrada plana deliciosa. No meio da viagem, ouvi uma sirene da polícia logo atrás da gente e na hora pensei que pudesse ser alguma encrenca, mas quando eles passaram por nós, vi os 4 policiais com os braços pra fora, assobiando e gritando pra gente. Eu sinceramente não acreditei, nunca havia visto policiais agindo dessa maneira, sem aquela frieza que estamos acostumados, que beleza.

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O final de semana foi praticamente dentro do apartamento, cozinhando e relaxando. Depois de tantos dias intensos, 24 horas por dia na rua ou no mato, sempre andando, planejando, remendando pneu, dormindo em barraca, tomando banho de rio, fazendo coco no mato, nada mais justo do que passar alguns dias dentro de casa, só curtindo o conforto do sofá, da geladeira, do banheiro limpo. Aproveitei essa calma pra finalizar o meu curso intensivo de culinária que fiz com o Chef Deva durante esses 25 dias. Obrigado Chef, sua presença foi fundamental na viagem, além das dicas gastronômicas, outras matérias também fizeram parte do curso: Calma, bom humor e educação.

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Passei a semana em Porto Alegre, correndo atrás de alguns curativos pra Princesa, andando pra lá e pra cá com o fone no ouvido, conhecendo alguns parques, avenidas e mercados da cidade, refletindo sobre a vida e trocando grandes ideias com o Paizão Queridão, que como sempre, me mandou respostas quase que imediatas. Andei alguns dias sozinho, outros com a Val e com o Bruno, outros com a Ana (uma grande amiga que ganhei no reveillon), outros com a Eliza (uma grande amiga que ganhei em Floripa). E tudo isso recheado com um tempero chamado emoção. Não consigo me segurar com esse tempero, eu coloco ele no meu dia-a-dia sem medo de estragar o sabor. Pra mim é muito valioso conhecer pessoas em um lugar, falar tchau, pedalar 1000km até outro lugar, e depois de um mês rever essas mesmas pessoas.

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Enfim, de barriga cheia, corpo descansado, amizades fortalecidas, roupas lavadas, chegou a hora de voltar ao litoral. Dessa vez, pra rever um outro pedaço dos “Meus Anjos do Sul”, foi assim que nomeei as pessoas incríveis, todos do Passo Fundo –RS,  que conheci no reveillon. (Lembra que eu disse que eles passariam o carnaval na mesma cidade que eu?). Sexta feira de carnaval, 5h15, ainda estava escuro, tomei o café, dei um forte abraço no Bruno e parti (Bruno, meu irmão, essa semana foi sensacional, fiquei feliz de ver o quanto você esta bem e realizado aqui no sul, sem aquele estresse que você vivia em São Paulo, continue assim, muita Fé na arte e na música, pois esse é seu caminho, um grande abraço).

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Vi o dia amanhecer na rua, passei na rodoviária pra fazer uma surpresa pros amigos de Passo Fundo que estavam indo de ônibus e continuei (“Daqui a pouco a gente se vê”). As 7h00 sai de Porto Alegre. Lá estou eu na estrada, novamente sozinho, apenas na companhia de My Princess e Big Father, numa rodovia chamada Free Way, a melhor de toda a viagem até então, sentido Imbé, numa velocidade inacreditável, cheio de energia, cantando e uivando em cima da magrela, vento na bunda, sem subida, pensamentos quase que explodindo a cabeça de tanta alegria, um pouco de ansiedade pra chegar e de repente uma surpresa:  70km em 3 horas de viagem, inacreditável.  Ainda faltavam 65km, uma longa viagem, porém uma das mais tranquilas que já fiz. Finalizei os 135km em 6 horas, parecia mentira. Estava calculando chegar pra janta, mas quando me dei conta, estava sentado na mesa do almoço com o pessoal.

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Na casa estavam presentes 12 pessoas. Dois que eu conheci no reveillon e 10 que eu iria conhecer. Não demorou muito e eu já estava me sentindo em casa (não sei se isso é um problema meu, ou se é muita hospitalidade dos outros). Luan e Ju Acco, os dois que eu já conhecia e que me apresentaram pra Bibis, pra Maikele, pra  Jé, pra Thalita, pra Laurinha, pra Candi, pro André, pra Tia Gelpi, pra Martina e pro Dani. Perfeitas companhias pra passar o carnaval, me senti como se fossemos amigos há um tempão, isso é muito bom. Intimidade é uma beleza, intimidade pra encher o saco, pra dizer que a comida ficou horrível, pra avisar a pessoa que ela está com bafo, essas besteiras que alegram o dia. Que carnaval inesquecível.  Quanta risada, quanta besteira, quanta emoção, quanto choro. O choro foi inevitável, não consegui me segurar depois de conhecer certas historias de vida. Histórias felizes e tristes da vida de duas pessoas, Luan e Dona Aurora.

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O Luan é um cara forte, muito forte por ter superado tudo o que a vida colocou no seu  caminho. Pra começar, foi abandonado pela mãe quando nasceu. Quem o educou foi a avó. Cresceu sofrendo preconceitos por ser homossexual, numa cidadezinha chamada Sertão, interior do RS, onde, segundo ele, o principal assunto da população é vida dos outros. Hoje, eu pude conhecer essa figura que tem um astral e bom humor maravilhosos, que me contou toda a historia da sua vida com muita naturalidade. Não é qualquer um que consegue superar tanta coisa numa vida só. Meu irmão, foi um prazer muito grande conhece-lo. Muito obrigado por compartilhar toda essa historia comigo e por me fazer rir a cada palavra que saiu da sua boca nesse carnaval.

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Agora vamos a Dona Aurora. Como eu havia dito, uma das pessoas mais especiais e únicas do mundo. A história é a seguinte: Desde que tinha 6 anos dizia ao seu pai sobre o seu grande sonho de sair pelo mundo, andando sem pressa, conhecendo com calma. Em janeiro de 2003, com 58 anos, eu disse cinquenta e oito anos, D. Aurora finalmente foi realizar o seu sonho. O que ela nunca imaginou é que o meio de transporte que a carregaria para o mundo seria uma bicicleta. Sim, ela saiu de Tramandaí, litoral do RS, com sua humilde Monark (A Serena) e foi até São Luís do Maranhão, passando por toda a costa brasileira, em mais de 2 anos de viagem, de bicicleta, sozinha, com quase 60 anos. Pra mim, isso é uma das coisas mais lindas que já vi na vida, não da pra acreditar em tanta coragem, tanta vontade de voar, de ser feliz.

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Agora, preciso explicar a maneira como eu fui parar na casa dela, a história é um quebra cabeça, mas vale a pena. Em janeiro de 2011, quando fiz minha primeira viagem pelo nordeste com o Guto, conheci um rapaz chamado Evandro. Ele estava viajando de bicicleta com sua esposa Lidiane, em uma volta a América  (www.penopedalelixonolixo.com). Pedalamos juntos por 2 semanas e nesse tempo, ouvi muito o Evandro falar sobre 2 pessoas: D. Aurora e Rafael Limaverde (Veja bem, guarde esses nomes). Vamos lá, explicarei agora por que o Evandro resolveu sair de bicicleta pelo mundo: A sua primeira viagem aconteceu pelo seguinte motivo: Evandro, 40 e poucos anos, estressado em São Paulo, louco pra cair no mundo, assistindo televisão, viu uma reportagem, sobre uma senhora que estava viajando por toda a costa do Brasil de bicicleta. O que ele fez? Saiu pedalando atrás dela. Pronto, Dona Aurora começa a mudar a vida das pessoas. Com sua magrela chamada Teresa, Evandro prometeu que iria encontrar aquela senhora, exemplo de vida, “musa inspiradora” (como ele a chama), e assim que a encontrasse, beijaria os seus pés. E então, ele foi percorrendo o litoral e perguntando pras pessoas “Passou uma senhora de bicicleta por aqui?”. Foi então que, em Itacaré, na Bahia, ele finalmente pôde encontrar aqueles pés, que foram beijados com muito amor, no meio da rua. (Foi incrível ouvir essa história sendo contada por ele, há 2 anos, e por ela, essa semana).

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Calma que ainda não acabou: Pouco antes de encontrar a Dona Aurora em Itacaré, Evandro encontrou também o Rafael Limaverde, no sul da Bahia. O Rafael estava quase terminando a sua volta a América (www.bicicletapelomundo.com), conheceu o Evandro, seguiu viagem junto a ele e consequentemente participou da “Caça a Musa Aurora”.

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Um ano depois dessa minha primeira viagem, fiquei sabendo de uma palestra que iria acontecer em Maringá, de um rapaz que já havia feito a volta a América. Fiquei super animado, fui me informar a respeito e descobri que o palestrante era o Rafael, o tão falado Rafael. O Evandro sabendo de tudo, avisou o Rafa que eu estaria presente na palestra. Assisti emocionado e ao final me apresentei, trocamos ideia, comprei o livro da viagem e saímos pra tomar uma cerveja. Rafael é um Cearense gente finíssima, que me contou também sobre todos esses encontros.

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Agora é hora de contar como o Rafael mudou a minha vida: Me formei em administração e fiquei 4 meses na procura por algum emprego que iria me deixar mais ou menos feliz. Em maio de 2012, passei uma semana trabalhando na cafeteria da minha prima Carla, que foi viajar e me deixou ali no lugar dela. Pra distrair, resolvi levar o livro do Rafael, que estava encostado na estante. Exatamente no mesmo dia em que levei o livro, entrou no café o Tadeu, que viu o livro em cima do balcão e se interessou. Tadeu, que já estava com a ideia de expandir a sua marca, Vestígio, propôs um patrocínio pra que eu fizesse essa minha viagem, e foi ai que minha vida mudou. Foi assim que tudo se encaixou, um influenciando o outro, encontros acontecendo, acontecendo por que devem acontecer. Sem esses encontros, nossa vida não faria tanto sentido, é por isso que hoje, eu agradeço ao Paizão por tudo o que ele coloca na minha vida, todas as pessoas, todas as conversas. Tudo isso pode, ou não, fazer sentido, o que muda é a maneira como analisamos e valorizamos as coisas que acontecem, a cada minuto.

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Dona Aurora, foi a musa inspiradora do Evandro, que foi o meu “muso inspirador”, que conheceu o Rafael, que escreveu o livro que foi parar em cima do balcão, que foi culpado por tudo isso que está acontecendo. Que coisa maluca. Hoje eu me sinto feliz por ter finalmente fechado o ciclo desses encontros, conhecendo essa senhora excepcional, dona de uma alegria e bondade que não dá pra acreditar. Fui à casa dela, almoçamos juntos, me mostrou muitas fotos, contou muitas histórias, se emocionou, chorou, me fez chorar, foi muito bom. No dia seguinte, visitei ela novamente, junto com a Ju Acco, que estava curiosa para conhece-la e também se encantou com aquela figura. Pra fechar com chave de ouro, ganhei um presentão: Desde que sai de Araraquara, estou querendo arrumar uma bandeira do Brasil pra pendurar na bike, mas eu não estava indo atrás disso, pois, sabia que uma hora ela iria aparecer, e não poderia ser melhor, ganhei a bandeira que a D. Aurora usou na sua viagem. Nem acreditei, agora eu tenho não só uma bandeira, mas um amuleto de proteção, que já rodou o Brasil inteiro com uma senhorinha abençoada.

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Estou entrando numa nova fase da viagem, daqui pra frente estarei realmente sozinho, sem conhecidos pelo caminho (tenho conhecidos apenas em Buenos Aires e Córdoba, na Argentina). Os sentimentos estão muito fortes, tanto por lembrar de tudo o que já aconteceu nesses 2 meses de viagem, como por imaginar que daqui pra frente tudo vai ser diferente. Daqui uns 12 dias vou chegar ao Chuy, extremo sul do Brasil, onde vou atravessar a primeira fronteira da viagem, entrando no Uruguay para atravessar toda a sua costa. Nesse momento estou em Passo Fundo, vim aqui visitar o restante dos amigos que fiz no reveillon, esse pessoal é especial demais pra passar em branco, então eu deixei a Princesa em Imbé e peguei um ônibus pra cá. Fico aqui 3 noites, renovando as energias pra finalmente iniciar a pedalada rumo ao estrangeiro.

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Gente, é isso ai. Estou com vocês sempre, sempre pensando na família e nos amigos, sempre rezando por todos e agradecendo por encarar essa saudade como uma das melhores coisas da vida! SAUDADES, como é bom sentir isso. Só não sente quem não ama!!! =)

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Um beijo bem barulhento nas bochechas, fiquem com o Paizão!

 

 

 

 

 

 

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